junho 29, 2010

Domínio


Gostaria de ter forças para dizer não
Dizer que não serei mais sua
E não sucumbir ao desejo
Mas quando penso em seu olhar
Nas suas mãos a me tocar
Percebo que cederei aos seus beijos
Ai...Como dói não saber do amanhã
Como lateja o sofrimento
E o corpo desnorteado
Segue sem rumo
Numa vida que sem seu toque
Não tem sentido
Como dominar a compulsão?
Que roubou a minha razão
E me jogou na sua vida
Nua
É despida de pudores
Que sou sua
Tantas quantas forem as suas ligações
Que sentimento é esse?
Que me deixou cega
E perdida
Que me roubou o ar
Fez-me bandida
Uma mulher que só sabe te amar!

Letícia Marques

junho 26, 2010

Desperta-me de Noite


Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
É rede a tua lingua
Em sua teia
É vicio as palavras
Com que falas
A trégua
A entrega
O disfarce
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales.

Maria Tereza Horta

junho 25, 2010

Ausência


Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais - um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-te de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice