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fevereiro 18, 2006

Ainda Há Pétalas Caídas…


Toma-me se queres… nada me dês
E eu em sonhos floridos adormeço
Se tudo de mim dou nada te peço
Não me fales de comos nem porquês

Se não é um jardim o nosso amor
Ainda há pétalas caídas pelo chão
Manchas verdes no rubro coração
Lembrando essa amizade multicor

Mas se é um mato seco o que me dás
E se é prado florido o que te dou
Só na ilusão é nosso amor vivaz

Em breve serei flor que já secou
Porém a terra fértil que a gerou
De a fazer renascer será capaz!


Carmo Vasconcelos

dezembro 23, 2005

Das Margens


Deixaste a margem do sonho
e emigraste para o outro lado Agora…
és apenas mais um exilado na margem da banalidade!

Aí…
Terra nua de surpresas
todos os gestos se repetem
inexoravelmente iguais
na sucessão dos dias e das noites…
e na voragem dos calendários vão esfriando
até se tornarem obviamente insuportáveis

Aí…
Areias onde não poisa o imprevisto
engordarás de tédio e de náusea
à mesa do quotidiano
até sufocares
na estreiteza dos fatos engomados…

Aí…
Chão alagado de silêncios
as palavras não têm fragrância de flor
nem sabem a mel…
e os amantes dizem “Olá, amor!”
como quem diz: “Acho que vai chover!…”

Aí…
Céu descolorido de romance
o Sol já não se ruboriza
quando pressente o odor da Lua
que a ele se entrega todas as noites
numa rotina de desencanto…
e a estrela polar nem estremece
à passagem do cometa
previsível todos os sábados à noite

Aí…
Lareira de fogos anémicos
o desejo coze em lume brando…
os beijos
oh! os beijos!…
trocam-se a horas certas
com a mesma ligeireza com que se escovam os dentes…
e o sexo
cada vez mais económico
vai dispensando a pouco e pouco
o luxo dos aperitivos

Espreito-te
da margem do sonho…

Aqui…
As palavras desabrocham com aroma de jasmim
e sabem a poema…
e quando os amantes dizem “Olá, amor!”
põem nas palavras corpo e alma
embalam-se em acordes de Chopin

Aqui…
O Sol não se acende todos os dias
mas queima rubro quando desponta…
a Lua
a Lua é uma deusa
que só se entrega num ritual sagrado…
e a estrela polar
habitualmente serena
rodopia em êxtase
se um cometa inesperado a visita

Aqui…
O fogo arde em labaredas
e o desejo ferve e transborda…
os beijos
oh! os beijos!…
tombam sem hora
como perlas de anis em bocas sedentas…
e o sexo
pródigo de iguarias
tem a volúpia de um momento raro…
corpo e alma em sincronia
destilando orgasmos cósmicos
em evasão para o Infinito

Espreito-te
da margem do sonho…

E choro-te!
Pobre emigrante exilado
na margem da banalidade…

Carmo Vasconcelos

novembro 29, 2005

Bailando com a Chuva


Lá fora... cai a chuva indiferente
dançando nua, gelada e ondulante
invade-me o seu frio penetrante
e ensopa-se a minha alma lentamente

Baila com a chuva o meu imaginário
a valsa de ontem, memórias esquecidas
rodopiam sonhos, paixões adormecidas
pecados inconfessos, segredos dum diário

É um bailado grotesco, alucinante
vertiginoso, cruel, fantasmagórico
a um só tempo deprimente e eufórico
sombras chinesas numa tela esvoaçante

Lá fora...cai a chuva persistente
já mal a ouço, absorta em devaneio
de alma alagada, mente náufraga, sem freio
meu corpo enrodilhado e indolente

Lá fora... pára a chuva de repente!
E um odor a seiva, a pão, terra molhada
enxuga-me a alma e faz brotar a gargalhada
que devolve à vida o meu corpo já dormente

Nas asas do vento morno o passado foge
do porão da alma eu tranco as escotilhas
mudo o cenário, troco as sapatilhas
e volto para o palco, bailarina de hoje!

Carmo Vasconcelos