fevereiro 28, 2006

Segredos


Ignorantes que são do poder da noite
Eles dormem. Eu caminho a esmo
Sob estrelas oriundas de tempos mortos
Ainda reflectindo mistérios e segredos
À minha paixão por desvendá-los.
Visto-me da noite como de um manto
E nele me transformo no ser que sou
Criatura das sombras, vestida apenas
Pelo manto de um céu estrelado.

O vento que és tu, soprando a esmo
Encontra-me desnuda sob a noite.
Tu, criatura também do que não tem origem
Sussurras, dizendo ao meu ouvido:
Eu te cobrirei mais do que a noite.
Eu te contarei segredos mais profundos
Do que a luz milenar de estrelas.

Eu te cercarei e te darei sossego
E no meu regaço te responderei.

Por segundos alucinantes esqueço tudo
E sigo tua voz de vento. Retiro o manto
E despida até da noite, espero
Mas nada escuto... Tu não respondes.
Esquivo, impaciente, frio - tu te aquietas
E minhas perguntas caem no vazio...
Recalcitrante, cubro-me outra vez do manto
Agora escuro. Busco estrelas em meu pranto
E encontro-as - escorrendo-me pela face...

Dalva Agnes

fevereiro 27, 2006

Louca


Sou mesmo muito louca...
Vivo as quatro estações num só dia.
Sinto n' alma o frio do Inverno
Que me faz pedir colo, choro, imploro
Logo me recobro,
vou ao trópicos
Muito quente quem encosta derrete
Subo as paredes,
escalo desejos de Verão
Mostro tudo...
Vou ao extremo
Depois me fecho no Outono,
Fico cinza,
relembro o passado,
me fecho
Não quero ver ninguém
Mas,
ela sempre vem...
A Primavera da minha alma,
Trazendo a esperança de dias melhores
Sonhos realizar,
fantasias a tilintar
Sou também Peter Pan,
eterna criança
Que embora não queira crescer,
Cresce com os impasses da vida
Num segundo,
sou mãe,
sou pai,
sou tia,
sou o anjo,
o demónio,
luz e escuridão.
Sou deserto,
sou oásis
O bem,
o mal necessário...
Super mulher,
frágil menina.
Muito louca,
muito...


Silvana Cervantes

fevereiro 26, 2006

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

fevereiro 25, 2006

O Mar e a Lua


Fazendo uma noite linda
Com clima ameno
A lua na sua imponência
Resolveu provocar o mar:
- Daqui do alto, te contemplo
e tenho muita pena de ti, ó mar.
Ao que o mar respondeu:
- Pena de mim?! Porque terias pena de mim?!
Por acaso sou digno de pena?!!!!
A lua continuou;
-Sinto sim, muita pena de ti..
.ficas aí em baixo, quase morto
sem nenhum movimento, enquanto eu,
aqui garbosa e muito linda,
ilumino a todos e a tudo,
inspiro os poetas,
acalento os solitários,
apaixono os namorados,
e enamoro a todos.
Sou superior a ti em todos os sentidos.
Desperto o interesse de todos,
Quantos já vieram aqui me conhecer,
Descobrir os meus segredos
E não conseguiram.!!!
Deus me criou para reinar soberana
Para ser o ponto de referência da terra,
O que seria deste planeta sem mim?!!

O mar, ouviu a tudo calado
E na sua calma, contemplando a lua
Com um olhar complacente, respondeu:
- Como tenho pena de ti minha amiga!!!
Achas que beleza é tudo?!
Pensas que és superior a mim
pois estás no alto e és muito bela,
reconheço e não nego...
Pobre coitada...o que seria de ti sem mim?!
Por que sabes que és bela?
Onde contemplas a tua beleza?!
O tempo todo deixo que me uses como um espelho,
Nunca te cobrei nada, nunca reclamei,
Pelo contrário, gosto de vê-la bela e feliz.
Mas agora sou obrigado a mostrar
que não és tão importante quanto pensas...
Não és fiel,
és volúvel e muito vaidosa
e também fingida
mudas de comportamento.
Todo o tempo.
Por trás desta tua arrogância
Tens muita insegurança,
És nova, cheia, crescente e minguante.
És muito inconstante!!!

Eu sou sempre o mesmo
Não engano.
Sou transparente nas minhas atitudes,
Sou manso, calmo, sereno.
Quando estou zangado, não finjo
Simplesmente reclamo, fazendo muito barulho,
Sou útil em todos os sentidos
Dou lazer a todos
Sou meio de transporte
E principalmente sou fonte de alimentação.
Foi sobre mim que Jesus andou...
Foi de mim que Jesus tirou muitos peixes
Que serviram como alimentação para milhares.
Até hoje alimento a muitos sem sequer cobrar nada...

-Então, minha amiga...
Ainda achas que és mais importante do que eu?!

Quando o mar olhou pra cima e procurou a lua
Ela tinha desaparecido
Estava envergonhada
Era lua nova...


Sandra Mamede

fevereiro 24, 2006

O Amor, Quando Se Revela ...


O amor, quando se revela...
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p' ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar ..


Fernando Pessoa

fevereiro 23, 2006

Vento


Na noite,
tolhida em solidão,
escuto o sibilar do vento,
tão forte que alcança
minha alma com gritos de agonia!
Seu lamento vem de entre as dores,
descamando meu coração causando
treva e frio no meu peito!
A alma descoberta, pálida, cansada,
que com a dor da ausência consome,
em fogo sangra!
Nas distâncias sem fim,
morrerei de aflição e de Saudade,
e tudo pelo aroma de teus Beijos!

Efigênia Mallemont

fevereiro 22, 2006

Lágrima


Brilha a luz no reflexo tremulo de uma lágrima
Brilham as luzes nas poças tremulas da chuva
Ela nasceu no abafo do peito
E num suspiro escorreu rosto a fora
Fez a curva no final dos traços
E caiu sobre a mesa
Ali ficou sozinha
Pequena gota
No seu reflexo via-se a meia-luz de uma tela
Com poucas palavras
Via-se um rosto
Via-se mais lágrimas tomar outros rumos
Ora as mãos as aparavam
Ora eram bebidas pelos lábios
Ouvia-se ao longe canções
Que não se pode contar
E dentro dela tinha tanta coisa
Tantos medos
Passado, futuro e presente
Era uma lágrima carregada
Que veio de um pranto
Engasgado, sofrido que causou espanto...


Elyedre Mireila

fevereiro 21, 2006

Metamorfose


Qual larva muda de cor e forma
em seus pensamentos noturnos.
Amarela de manhã
preta à noite.
Nesta mudança trocante
muda a vida, os sonhos, os desejos
criados e não saciados,
sem coragem de confessar ao mundo
o seu amor.

Tão grande que não cabe mais no peito.
Estonteante que não sabe mais o que dizer
para se conter
para não morrer do mal de amor.

Metamorfose da vida
sentida
amarga qual fel
sem mel
sem nada para destravar
essa secura de sua boca tão pura.

Metamorfose se metamorfoseando
sem nada querer sentir
fugindo, cada vez mais
para não entrar no labirinto da dor
de amor.

Eda Carneiro da Rocha

fevereiro 20, 2006

Amar!


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar

Florbela Espanca

fevereiro 18, 2006

Ainda Há Pétalas Caídas…


Toma-me se queres… nada me dês
E eu em sonhos floridos adormeço
Se tudo de mim dou nada te peço
Não me fales de comos nem porquês

Se não é um jardim o nosso amor
Ainda há pétalas caídas pelo chão
Manchas verdes no rubro coração
Lembrando essa amizade multicor

Mas se é um mato seco o que me dás
E se é prado florido o que te dou
Só na ilusão é nosso amor vivaz

Em breve serei flor que já secou
Porém a terra fértil que a gerou
De a fazer renascer será capaz!


Carmo Vasconcelos

fevereiro 17, 2006

Desejo


Sinto um arrepio na espinha,
fecho os olhos e imagino...
Teu corpo junto ao meu,
colado ao meu.

Tuas mãos deslizando em minhas curvas,
tocando-me firmemente,
mas delicadamente,
fazendo a minha razão confundir-se.

Tua boca trilhando um caminho de fogo,
do pescoço até meus ombros.
Às vezes, mordendo minha orelha levemente,
provocando-me sem perdão.

Corpos suados, unidos pelo amor.
Selados pela paixão...
Queria muito ter você agora,
porém, tudo isso é só imaginação!...

Andréa Borba Pinheiro

fevereiro 16, 2006

Sem Uma Palavra, Sem Um Sinal

Sou tua amiga não só pelo que tu és, mas pelo que eu sou quando estou contigo.
Sou tua amiga não só pelo que conseguiste fazer de ti próprio, mas pelo que consegues fazer de mim.
Sou tua amiga porque fizeste mais do que qualquer credo poderia ter feito para eu me tornar entusiasta, e mais do que qualquer destino poderia ter feito para me fazer feliz.
Conseguiste-o sem um toque, sem uma palavra, sem um sinal.
Conseguiste-o sendo apenas tu próprio. Talvez seja isso afinal que significa ser amigo…

M.F.

fevereiro 15, 2006

A Nossa Casa


A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onde está ela, Amor, que não a vejo?

Na minha doida fantasia em brasa

Constrói-a, num instante, o meu desejo!


Onde está ela, Amor, a nossa casa,

O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?


Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,

Andamos de mãos dadas, nos caminhos

Duma terra de rosas, num jardim,


Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...


Florbela Espanca

fevereiro 14, 2006

Quem Namora

Quem namora agrada a Deus.

Namorar é a forma bonita de viver um amor. Não namora quem cobra nem quem desconfia.

Namora, quem lê nos olhos e sente no coração as vontades saborosas do outro.

Namora, quem se embeleza em estado de amor. A pele melhor, o olhar com brilho de manhã.

Namora, quem suspira, quem não sabe esperar, mas espera, quem se sacode de taquicardia e timidez diante da paixão.

Namora, quem ri por bobagem, quem entra em estado de música da Metro, quem sente frios e calores nas horas menos recomendáveis.

Não namora quem ofende, quem transforma a relação num inferno, ainda que por amor. Amor às vezes entorta, sabia? E quando acontece, o feito pra bom faz-se ruim.

Não namora quem só fala em si e deseja o parceiro/a apenas para a glória do próprio eu. Não namora quem busca a compreensão para a sua parte ruim. O invejoso/a não namora. Tampouco o violento!

Namorados que se prezam tem a sua música. E não temem se derreter quando ela toca. Ou, se o namoro acabou, , nunca mais dela se esquecem . Namorados que se prezam gostam de beijo, suspiro, morderem o mesmo pastel, dividir a empada, beber no mesmo copo. Apreciam ternurinhas que matam de vergonha fora do namoro ou lhes parecem ridículas nos outros.

Por falar em beijo, só namora quem beija de mil maneiras e sabe cada pedaço e gostinho da boca amada. Beijo de roçar, beijo fundo, inteirão, os molhados, os de língua, beijo na testa, no seio, na penugem, beijo livre como o pensamento, beijo na hora certa e no lugar desejado. Sem medo nem preconceito. Beijo na face, na nuca e aquele especial atrás da orelha no lugar que só ele ou ela conhece.

Namora, quem começa a ver muito mais no mesmo que sempre viu e jamais reparou. Flores, árvores, a santidade, o perdão, Deus, tudo fica mais fácil para quem sabe de verdade o que é namorar. Por isso só namora quem se descobre dono de um lindo amor, tecido do melhor de si mesmo e do outro. Só namora quem não precisa explicar, quem já começa a falar pelo fim, quem consegue manifestar com clareza e facilidade tudo o que fora do namoro é complicado.

Namora, quem diz: “Precisamos muito conversar”; e quem é capaz de perder tempo, muito tempo, com a mais útil das inutilidades e pensar no ser amado, degustar cada momento vivido e recordar palavras, fotos e carícias com uma vontade doida de estourar o tempo e embebedar-se de flores astrais.

Namora, quem fala da infância e da fazenda das férias, quem aguarda com aflição, o telefone tocar e dá um salto para atendê-lo antes mesmo do primeiro trim.

Namora quem namora, quem à toa chora, quem rememora, quem comemora datas que o outro esqueceu.

Namora quem é bom, quem gosta da vida, de nuvem, de rio gelado e de parque de diversões.

Namora quem sonha, quem teima, quem vive morrendo de amor e quem morre vivendo de amar.

Artur de Távola


Feliz dia de S. Valemtim a todos/as

fevereiro 13, 2006

Gostaria


Queria compartilhar contigo os momentos
mais simples e sem importância.

Por exemplo:

sair contigo para passear,

sentir-te apoiada em meu braço,
ver-te feliz ao meu lado

alheia a todo mundo que passasse.


Gostaria de sair contigo para ouvir música,

ir ao cinema, tomar sorvete,

sentar num restaurante diante do mar,

olhar as coisas, olhar a vida, olhar o mundo
despreocupadamente, e conversar

sobre "nós" esse "nós" clandestino

que se divide em "tu e eu"

quando chega gente.


Encontrar alguém que perguntasse:

"Então, como vão vocês?"

E me chamasse pelo nome,

e te chamasse pelo nome

e juntasse assim nossos nomes,

naturalmente, na mesma preocupação.


Gostaria de poder de repente te dizer:

Vamos voltar pra casa...
(Como se felicidade pudesse ser uma coisa

a que tivéssemos direito como toda gente)

Queria partilhar contigo os momentos

menores da minha vida,

porque os grandes já são teus.

JG de Araujo Jorge

fevereiro 12, 2006

É Esta a Visão



É esta a visão que tenho!
quando te sinto na bruma da maré,
no vento que me açoita delicado,
que me enlaça e me sussurra amor…

e que espera de mim,

a volúpia adivinhada pela vontade de te mimar…

É esta a visão que tenho!
da criação, da liberdade,
quando a água me beija,
e me chama a procurar certezas em infindáveis (in)certezas…

de entre gotas imensas de mar…


É esta a visão que tenho!

quando sigo no vértice do vento,

na crista da onda do mar,

para aí chegar,
onde culmina o meu e o teu tempo,
e tudo o que invento,

para saberes que existo,


Aqui e aí,

onde o vento soprar e o mar alcançar

só para te poder amar!


É esta a visão que retenho profética de ti…

e que conservo egoísta

do esplêndido amor que já sei meu!


Paula Isabel

Canção na Plenitude


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agradada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo que perdi:
dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.


Lya Luft

fevereiro 10, 2006

Divertimento Com Sinais Ortográficos


...

Em aberto, em suspenso
Fica tudo o que digo.
E também o que faço é reticente...

:

Introduzimos, por vezes,
Frases nada agradáveis...

.

Depois de mim maiúscula
Ou espaço em branco
Contra o qual defendo os textos

,


Quando estou mal disposta
(E estou-o muitas vezes...)
Mudo o sentido às frases,
Complico tudo...

!

Não abuses de mim!

?

Serás capaz de responder a tudo o que pergunto?

( )

Quem nos dera bem juntos
Sem grandes apartes metidos entre nós!

^

Dou guarida e afecto
A vogal que procure um tecto.

Alexandre O'Neill

fevereiro 08, 2006

Esta Noite


Esta noite
no silêncio destas paredes sombrias

cheias de palavras consumidas

a lua dança com gestos de encantamento

e as estrelas sorriem de prazer


Esta noite

invento-te nesta distância magoada

onde as palavras repousam

nos lábios ausentes que riem e se alimentam

de sabores sonhados


Esta noite

arde uma fogueira de nostalgia

e o mistério absorvente da tua luz

entra em mim mansamente


Aqui

longe de ti e de tudo

sinto-me bem dentro de ti
e deixo-me ficar


António Sem

fevereiro 07, 2006

Inebriantes Na Dança Do Amor


Minha mente é só desejo:
Minha boca clama pelo teu beijo,
Meu corpo pulsa pelo teu toque,
Meu ser estremece pelo teu olhar.

Eu sou,
inteiramente,
lua,
nua,
tua.

Desejo acima de desejo
Corpo sustentando corpo
Alma comportando alma.

Tu
infinitamente
no meu
íntimo...

Nós dois
Inebriantes
Na dança do amor
A tocar
A sentir
A gozar
Na explosão do depois...

Ana C. Pozza


fevereiro 06, 2006

Lágrima


Choro lágrimas de vida
Enxugadas pelo tempo...
Perdido, algures, entre a verdade
E o que já foi sonhado...

Se pelo menos pudesses entender...

Um misto de amor e dor aperta cá dentro,
Mas nada consigo fazer...
E, cada vez mais, viver é um sonho distante
E amar, uma ilusão presente...

Se pelo menos pudesses entender...

O caminho que sigo não tem volta,
As paredes são estreitas
E os rostos sempre os mesmos...

As palavras saem sem eu querer
E o seu eco sufoca o meu ser...

Se pelo menos pudesses entender
Que o amor que sinto não tem par...
E estar só não é viver....

João Moutinho

fevereiro 04, 2006

As Sem-Razões Do Amor


Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade

fevereiro 03, 2006

Anjo


Olhei para o céu senti um brilho diferente
Foi quando percebi seu sorriso entre ás estrelas.
Meu corpo estão perdeu-se em seu abraço.
E ao sentir seus carinhos cobri o tempo
Com o manto da eternidade.
Sem eu perceber você se fez real.
Dentro e fora de mim, seu Amor
Me iluminou, cantamos, dançamos
Pôr entre as nuvens lindamente.
Me lancei no infinito do seu ser.
Senti nossas mãos entrelaçadas.
Busco seus olhos, eles acolhem
Minha alma com alegria com sonhos.
Meus lábios ampara-se no teu beijo!
Adormeço.


Efigênia Mallemont

fevereiro 02, 2006

Saudade


Por uma rua deserta
Altas horas, chuva e frio
Só meus passos na calçada
Oiço, caminhando para nada
Ou em busca do destino.

No outro lado do Mundo,
O teu dia é o passado.
O meu, o teu futuro.
Caminhando ignorado,
Passo a passo me torturo.

Coisa esta: Saudade
Que invade e nos dói.
Entristece a realidade
Em função do distante,
E nos burilando, mói.

Luís Eusébio

fevereiro 01, 2006

O Melhor Beijo


" O melhor beijo é o beijo desejado,
o beijo que me completa,
o beijo da minha forma adequada,
o beijo com o sabor do desejo
na flor da minha pele,
o beijo da minha vontade,
o beijo que faz o meu pensamento,
o beijo que faz a minha boca e
meu corpo querer um novo beijo
outra vez e mais outra vez.
O melhor beijo é o beijo sem tempo,
o beijo de longa duração ou de pouca duração,
um beijo de vinte segundos
ou de vinte minutos, isto não importa.
O tempo não conta,
enquanto se beija o tempo para, o tempo freia.
E nesta inércia do tempo
só sinto a louca vontade do outro.
Sinto a outra língua que de encontro
com a minha faz um passeio suave e
excitante humedecendo minha alma.
Sinto a língua que viaja dos
dentes ao céu da boca.
Sinto a língua que acarinha os
meus lábios. A língua e a língua...
A língua que me roça, que me percorre,
que me navega e que me lambe...
O melhor beijo é o beijo em que a língua
faz o beijo e o beijo faz o sexo".


Angela Marta Camargo Casemiro