abril 30, 2006

Aprendizado Constante

Procuro nas nuvens,
decifrar o tempo...
Busco na brisa,
o carinho de um afago...
Encontro no sol,
raios de luz..
Reconheço na natureza,
reflexos de paz...
Espero que o dia,
me mostre um caminho...

Anoitece,
Procuro na lua,
decifrar a beleza...
Busco nas estrelas,
a certeza de tudo...
Encontro no universo,
um cantinho secreto...
Reconheço no ar,
a certeza da vida...
Espero que a noite,
me presenteie com um novo amanhecer...


Angela Bretas

abril 28, 2006

É necessário


Para falar de amor
é necessário saber diferenciar
um simples desejo contido
uma paixão alucinada,
de um querer ser limites
sem regras nem imposições
aceitando compartilhando a vida
em todas as dimensões
Olhando pro mesmo caminho
buscando uma só direcção
estando presente
mesmo que em pensamento,
suprindo com alento a dor da saudade
incessante.
Para falar de Saudades é necessário
entender o porque
desse aperto no peito,
porque não bate
de qualquer jeito
porque nem toda saudade
é de dor.
Saudade nem sempre é esperança,
as vezes apenas lembranças
para uns pode ser ansiedade,
e pra outros apenas saudades...
De perdas irreversíveis
de algo ou alguém que se foi.
Para falar de partida é necessário
sentir viver conhecer
querer ter sempre presente
aqueles que na despedida,
se cruel for assim o destino
leva ao partir um pouquinho
ou um pedaço enorme de ti.
Para falar de Adeus é necessário
saber... que
Adeus não é só até logo
"vou indo"
e este não se fala sorrindo...
Um Adeus não é simples palavra
que pode a esmo ser pronunciada
seu contexto é amplo
muita vezes perverso
sem aceno, sem toque nem gesto
e que quando por ele passamos
muitas vezes relutamos
contendo as lágrimas que cortam a face
do peito rasgado de dor.
Para falar de sentimentos
de alegrias dores lamentos
de lutas perdidas
de vitórias e conquistas
de sonhos despertados
de felicidades de amor paixão e fracassos
é necessário viver cada capítulo,
tentando aprendendo e entendendo
que só se fala com a alma
aqueles que com os olhos do coração
viveram intensamente
ou por um segundo pleno
o significado de cada
emoção.

Elizabeth Misciasci

abril 27, 2006

Um Poema de Ilusão Efémera

Eu li teu poema escrito ao vento
e, percebi que indeciso te sentias.
Se falavas em amor ou não…
Se dizias ou não o “eu te amo”,
vontade de responder não me faltou.
E, aqui me tens neste momento a
dizer-te:
- Se para mim fossem teus belos versos…
- Se para meus olhos brilhassem os
teus singelos,
eu de amor me fartaria feliz em encantos mil.
Não preciso ouvir “eu te amo”, amor se sente
e, não há expressão em palavras que o traduza.
- Bastaria que estampasses em teu riso largo,
em afecto que seria meu,
este afecto que é tão teu,
que em mim vibraria,
e perduraria até a morte.
Mas que morte?
- A morte dos sentimentos.
E, se não me leres no que sou,
de nada mais adiantará escrever-te,
nada sabes do que SOU.
Enfim, tenho dito e concluo;
- Isto é e, foi só um poema de ilusão
efémera!

Anna Paes

abril 25, 2006

Metades de Mim

Trago no peito a alegria
de Deus ter me feito mulher.
Mulher que junta os pedaços,
sabendo bem o que quer.

Metade de mim é a dor,
outra metade é alegria.
Mas a que quero compor,
bem sei que jamais seria.

A metade das metades
do ser que você vê,
não tem a mesma idade
daquele que não se vê.

Metades de um quebra cabeça
difícil de se montar,
mas embora não pareça
vale a pena tentar.

Metades de fogo e paixão
que me cegam a visão,
metades de gelo total
que me deixam sempre mal.

Metades de um lindo verão
com muito sol e alegria,
metades de inverno são,
minhas tristes agonias.

A perfeição não existe,
disso tenho certeza.
O que na verdade existe,
é uma alma surpresa.

Metade surpresa boa,
outra metade ruim.
Às vezes rindo à toa,
outras triste assim.

Metades que se completam
formando este ser mulher.
Me dê um abraço e um beijo,
se você assim me quer!

Simone Borba Pinheiro

abril 24, 2006

Ecos da Dor

No bruto ardor da incerteza
Debruço o cansaço dos meus olhos
Pensamentos tremem na escuridão
Despidos sob incógnitas nuvens

Passos atordoados escapam do meu corpo
Buscando agasalho em minhas sombras
Posta em rija contemplação, a indiferença
Férvida e impune a se multiplicar

Na orgia de tantos silêncios
Apenas o lamento do vento
Que preenche minha garganta
Num espasmo de dor órfã

Fernanda Guimarães

abril 22, 2006

Não Tens Culpa...

Não tens culpa
se este amor nasceu como uma planta humilde
e ignorada,
que ninguém plantou, mas que vive e que cresce,
e afinal em meu peito criou fundas raízes
e todo em flores azuis de sonho se enfloresce...

Não tens culpa de nada...
Que culpa terás se meus olhos
nunca mais te esqueceram
assim tristes como estão,
e se encontrando desprevenido o pensamento,
entraste e chegaste ao coração?

Culpemos o Destino, ou ninguém...
E para que falar em culpa
se de nada estamos certos,
se serás sonho apenas,
sonho de olhos abertos,
fora do alcance da mão?. . .


J.G. de Araújo Jorge

abril 20, 2006

Torre de Névoa

Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar.
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: "Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!..."

Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu!...

Florbela Espanca

abril 18, 2006

Eis-me…


Eis-me,
tendo-me despido de todos os meus mantos
tento-me separado de adivinhos, mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes
O ausente
Nem o teu ombro me apoia
Nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas
Do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para lá do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes
O ausente

Sophia de Mello Breyner

abril 17, 2006

Não Posso Adiar o Amor

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa

abril 16, 2006

Reverência ao Destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras
em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que
realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer,
antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas
pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e reflectir sobre os seus erros,
ou tentar fazer diferente algo que já fez muito
errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer
o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer
sempre a verdade quando for preciso. E com confiança
no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder
aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que
fazer. Ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o
deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que
realmente te conhece, te respeita e te entende. E é
assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos
camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos
ter visto.

Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é
difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos
culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos
fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela
que toma conta do corpo como uma corrente eléctrica
quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo
do depois.
Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a
quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo
todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é segui-las.

Ter a noção exacta de nossas próprias vidas, ao invés
de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta
resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de
rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por
inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te
aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefónica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é
realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fracção de
segundo, mas com tamanha intensidade, que se
petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.


Carlos Drummond de Andrade

abril 14, 2006

Tocando em Frente

Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso, porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs,
é preciso o amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir,
é preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha, e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada,
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou, de estrada eu sou

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, e ser feliz

Ando devagar porque já tive pressa
e levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
e cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
E ser feliz...


Almir Sater/Renato Teixeira

abril 13, 2006

E Por Vezes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

abril 12, 2006

A Boca

A boca,

onde o fogo
de um verão
muito antigo

cintila,

a boca espera

(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)

espera o ardor
do vento
para ser ave,

e cantar.


Eugénio de Andrade

abril 11, 2006

Cúmplices

A noite vem às vezes tão perdida
E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida
E tudo o que era fundo fica perto
Nem sempre o chão da alma é seguro

Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tantas vezes o que resta, do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palavras mais escondidas
Que só a noite arranca sem doer
Seremos cúmplices o resto da vida

Ou talvez só ate amanhecer
Fica tão fácil entregar a alma
A quem nos traga um sopro do deserto
Olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Mafalda Veiga

abril 10, 2006

Portas

É praticamente uma lei na vida que
quando uma porta se fecha para nós, outra se abre.
A dificuldade está em que, frequentemente,
ficamos olhando com tanto pesar a porta fechada,
que não vemos aquela que abriu.


Andrew Carnegie

abril 08, 2006

Ando com Saudade...

Ando com saudade do beijo esquecido,
do gozo sentido e da dor de amor...
Faz tempo que não me entrego,
mais tempo ainda, que em nada acredito.

Preciso me desfazer das dúvidas
e deixar rolar... sem que este tempo
mate em mim, por dentro, o desejo de amar.

Ando com saudade da frase louca,
do ato impensado, do sincero sorriso,
das mãos enlaçadas, do carinho sem pudor...
Preciso ressuscitar a paixão,
enlouquecer de tesão e deixar me levar...

não importa pra onde eu vá,
desde que seja por um momento sincero.
Ando com saudade de ser feliz,
de ser eu mesma, apenas Mulher,
sem ter de pensar, sem ter de jogar,
sem ter de fingir que não preciso de nada,
que sou fugaz... que sou realizada...
Preciso sinceramente, ser desmascarada...


Angela Lara

abril 06, 2006

Eu Queria Ser


Eu queria ser essas mãos
que tocam teu corpo suado.

Eu queria ser essa boca
que te beija em delírio.

Eu queria ser esses olhos
que te vêem apaixonado.

Eu queria ser esse nariz
que sente teu cheiro no ar.

Eu queria ser esses ouvidos
que escutam teus gemidos.

Eu queria ser esses braços
que te enlaçam e te apertam.

Eu queria ser esse corpo nu
que, colado ao teu, sente teu calor
e se entrega entorpecido, alucinado.

Eu queria ser essa mulher
que depois repousa ao teu lado,
extasiada pelo prazer de ser amada.

Silvia Munhoz

abril 05, 2006

Sonhos


Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

Fernando Pessoa

abril 03, 2006

Profundas Marcas!


E a vida foi recalcando-a
empurrando-a goela abaixo
sempre e sempre mais...
Como se fosse algo indigesto...

Parecia desenho animado...
marteladas...umas sobre as outras...
mas ela saia inteira...

Como um prego entrando na madeira
e saindo do outro lado

Até que um dia resolveu ser espinho de roseira
pontinha afiada
todos que curiosamente o tocavam,
se feriam...

Foram tantas as marteladas
que a ponta ficou fina
afiada, e afinada

como língua ferina e felina...

Não mais se controlava,
tudo dizia, repetia e respondia...
rebelde, ninguém a domava...

minto, ninguém não...só a necessidade!

Uma grande e eterna mágoa,
a se defender constantemente!

Esqueceu-se de ser açúcar
doce como mel
endureceu...
Hoje, só tem profundas marcas!

Margaret Pelicano

abril 02, 2006

Vaidade

Sonho que sou a poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo..
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Florbela Espanca

abril 01, 2006

Fábula Antiga

Envelheço, quando me fecho
Para as novas ideias: e me torno radical

No princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de Lince em olhos de Morcego.

Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vazou;
Foi a Demência logo às feras condenada,

Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou,

Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis laços
Quando a Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos


António Feijó