maio 30, 2006

Ontem

Ontem, foi apenas mais um dia que passou,
Sem dar por isso, se dele não há lembrança,
Mas se dele, alguma coisa nos ficou,
Que ela seja, o alimentar duma esperança.

Ontem foi apenas, mais uma pétala caída…
Que mal caiu, foi levada pelo vento,
Dessa flor, que retrata a nossa vida,
No seu mais permanente movimento.

Para onde foi cada pétala desfolhada?
Da frágil flor, que ainda tem perfume…
Porquê? O vento as levou sem dizer nada!...

Bem sei que nada vale o meu queixume,
Porque cada ontem, é memória mitigada…
Do breve tempo… A que a vida se resume!...


Euclides Cavaco

maio 28, 2006

Irrompe

Irrompe do teu corpo iluminado
toda a luz de que o mundo sente falta
Não a que mais reluz. Só a mais alta
Só a que nos faz ver o outro lado

do bosque onde o Futuro e o Passado
defrontam o Presente que os assalta
num combate indeciso a que nem falta
o sabor de saber-se ilimitado

Irrompe assim a luz entre os extremos
da mesma renovada madrugada
E vibra a cada instante um novo grito

Com essa luz do grito é que nós vemos
que Passado e Futuro não são nada
apenas o presente é infinito

David Mourão Ferreira

maio 25, 2006

O Que Há em Mim é Sobretudo Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.

Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

maio 23, 2006

Gaivota

Cortando nuvens
Plainando ao vento
Asas abertas
Em voos rasantes
Mergulhas no mar
Tua visão é pura magia
Quisera poder
Em tuas asas voar
Descobrir mundos
Dormir ao relento
Beijar o sol
Abraçar a lua
Ter o topo das árvores como abrigo
E o mar como refúgio
Ir sem ter volta
Ser dona de mim
Livre, leve e solta
Como a ti
Gaivota


Angela Bretas

maio 21, 2006

Amigos são Anjos

Os verdadeiros amigos são anjos!

Descobri essa irrefutável verdade ao perceber o quanto são raras essas preciosidades que chegam de repente na vida da gente e se alojam devagarzinho em local especial e essencial da nossa existência.

No decorrer dos anos, encontramos vários tipos de anjos. Alguns são sonsos, vão se apoderando do nosso carinho como quem não quer nada, até que, quando percebemos, já lhes dedicamos nosso afecto integral...

Outros são mais atirados; já chegam mostrando claramente com seus olhos sinceros o quanto nossa amizade é importante para eles... Alguns chegam necessitando de curativos nos ferimentos causados por amigos que não eram anjos... Outros chegam para sarar nossos próprios ferimentos...

Alguns são leves e divertidos; nos mostram a alegria da vida... Outros, não menos honestos, nos mostram a seriedade com que a vida deve ser enfrentada...

Alguns têm suas qualidades tão à mostra, que a um primeiro olhar já sabemos a que vieram...Outros têm essas mesmas qualidades muito bem guardadas e precisamos ir desvendando-as aos poucos...

Alguns esbarram na gente numa esquina qualquer, sem avisar e nos dão carinhos reais, sorrisos reais, protecção real.... Uns não são melhores nem piores que os outros; são apenas diferentes, com suas qualidades que devemos salientar, com seus defeitos que devemos enfrentar (pois quando gostamos temos compromisso de ser fiéis até aos defeitos do nosso anjo).

O importante é tentarmos, ao longo das nossas vidas, termos sempre algum anjo com o qual possamos contar nas horas difíceis para nos dar alento... e nas horas alegres para rir com a gente, rir da gente, da vida enfim...

O importante é termos anjos...

O importante é sermos anjos...

Lúcia Padilha

maio 20, 2006

Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

Florbela Espanca

maio 19, 2006

Sei-te de Cor

Sei de cor
cada traço
do teu rosto,
do teu olhar.
Cada sombra
da tua voz.
E cada silêncio,
cada gesto que tu faças...
Meu amor, sei-te de cor.

Sei
Cada capricho teu
E o que não dizes
Ou preferes calar.
Deixa-me adivinhar,
não digas que o louco sou eu
se for tanto melhor
Amor, sei-te de cor.

Sei
Por que becos te escondes.
Sei ao pormenor
o teu melhor e o pior.
Sei de ti mais do que queria.
Numa palavra diria,
Sei-te de cor.

Paulo Gonzo

maio 16, 2006

Os Degraus

Não desças os degraus dos sonhos
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás de suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco esse nosso mundo...


Mário Quintana

maio 15, 2006

Mil Mulheres

Já fui tantas mulheres...
a que foi traída
a que traiu
a que foi esquecida
a que esqueceu
a menina
a safada
a insegura
a apaixonada...

Já fui tantas mulheres...
a sonhadora indefesa
a loba faminta e malvada...
a boa
a má...
a escrava...
a que prendia os laços
a que soltava... resignada...

Já fui tantas mulheres...
perdi carinho
pelo caminho...
amores sonhos
devagarzinho...
sobrevivente
vítima
indecente...

Já fui tantas mulheres...
vesti a fantasia de alegria
no palco certo
a fala errada...
perdi bons homens
na caminhada..
Mas de todas as cenas
pelas quais passei
esta fé insistente
nunca matei

E das andanças e mudanças
que vier...
eu me arrebento
me levanto,
arrumo o sapato quebrado
o cabelo assanhado
e sigo...
Pois sou mulher!!


Silvane Saboia

maio 13, 2006

Voz da Saudade

Saudade é quand’alma chora
O vazio que em nós ficou
De tudo o que foi embora
E na vida nos tocou!...

É a voz das emoções
Que acorda o sentimento
Em rios de divagações
Que correm sempre em lamento.

É dor no peito calada
E que a nossa alma invade
De memórias feitas nada…
Apenas… Voz da saudade!...

Euclides Cavaco

maio 11, 2006

Perdendo

Amanhã quando você pensar em me querer, talvez eu já tenha encontrado
alguém que me conquiste e que adore estar em minha companhia...
Que me aceite como sou e não tem medo dos meus sentimentos...
Que ri das minhas brincadeiras,
adora meus exageros,
se surpreende com minhas surpresas,
adora minhas loucuras,
que se encanta com meu lado criança...
leva a sério meus sentimentos,
que acredita que eles são verdadeiros....

Talvez quando você precisar de mim eu até tenha vontade de te ajudar,
mas quando lembrar que eu existo eu já possa ter desaparecido do seu alcance,
e se por um dia quiser me amar,
talvez neste dia eu transforme todo esse amor que sinto em uma simples amizade,
assim como você fez com todo sentimento que te ofereci,
sem te pedir nada,
absolutamente nada em troca....
Se um dia o destino nos pregar uma peça
e fizer com que eu passe com uma outra pessoa na sua frente,
saiba que foi essa pessoa
quem me segurou com as duas mãos na hora da minha queda...
Quando sentia sua falta!
Quando sentia sua ausência!

Quando seus olhos sentirem falta de uma luz
e você quiser ver a luz dos meus olhos
quando te encontrava vendo você chegando para meus abraços e beijos,
talvez eu já tenha encontrado uma outra luz,
mas mesmo assim,
será bom poder vê-lo cair na realidade que me teve em suas mãos e não me quis...
então peça ao destino, mais uma vez, para cruzar nossos caminhos
e que nos lance um nos braços do outro...
(Pois é o que eu sempre pedi a ele, quando estava longe de ti).

Se por um dia sentires que está sofrendo por Amor
e quando descobrir que está amando novamente,
sorria, pois terá certeza de que neste dia deixarei de pensar
que você não é capaz de amar...

Mas depois de tudo o que escrevi,
se você não entender que ainda TE AMO,
por favor, esqueça tudo o que leu e concentre-se nestas minhas últimas palavras:

VOCÊ ESTÁ ME PERDENDO!!!

Bruna Wild

maio 09, 2006

Cântico Negro

" Vem por aqui"
- dizem-me alguns com olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse.

Quando me dizem: "vem vem por aqui"
Eu olho-os com olhos lassos
Há, nos meus olhos, ironias e cansaços
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali.

A minha gloria é esta
Criar a desumanidade !
Não acompanhar ninguém.

- Que eu viva com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre da minha Mãe.

Não, não vou por ai! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vos responde,
Por que me repetis: " vem por aqui "?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por ai...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada !
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas , e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos ?...

Corre, nas nossas veias, sangue velhos dos avós,
E vós amais o que e fácil !

Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura !

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me de piedosas intenções !
Ninguém me peça definições !
Ninguém me diga : "vem por aqui "!

A minha vida é um vendaval que se soltou.
E uma onda que se alevantou.
E um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!

José Régio

maio 07, 2006

Dádiva Divina

Filhos são uma dádiva
Nascem como a alvorada
Chegam trazendo a anunciação
de um novo dia,
de uma nova vida,
de uma nova conquista...
Com o passar dos anos,
florescem tal qual botão em flor,
desabrocham como rosas floridas,
enfeitando e encantando
o jardim da vida...
Portanto filhos, perdoem-me:
Se nos momentos de repressão
fui por demais severa...
Se no corre-corre do dia a dia
não ofereci a vocês o sorriso que necessitavam...
Se no meu aprendizado em ser mãe,
usei-os como cobaia de meus erros...
Se na minha ânsia de guiar,
esqueci que vocês já conseguem
caminhar sozinhos...
Aproveito este momento especial
do Dia das Mães,
e ofereço a vocês o meu abraço,
que por vezes esqueci de dar...
Dou-lhes meu carinho,
que nunca há-de faltar...
Oferto-lhes o meu amor,
que é eterno...
Concedo-os novamente a vida,
pois vocês são minha vida também!
Vocês estarão sempre comigo
Faça sol ou faça chuva
Noite ou dia
Ano após ano
Enchendo minha vida de felicidade,
Meus olhos de optimismo,
e meu coração
de sonhos
e esperanças!

Angela Bretas

maio 05, 2006

Revelando-te em Meus Braços

O frémito do último abraço
desperta a memória do sonho.
O murmúrio da luz do sol,
o surgir tímido do azul,
no infinito que me contempla,
o canto sussurrado dos pássaros,
anunciam a dolência da manhã.
A inquietude da tua falta,
o sobressalto da tua ausência,
abrem-me a porta da saudade.

Revivo a entrega,
como se tudo fosse
mais uma vez possível:
o aventurar de todos os sorrisos,
o meu amor revelado em teu olhar,
o desnudar das minhas vontades
desdobradas por tuas mãos.
Permanece na intimidade do meu olhar,
Todas as palavras e confissões
Pronunciadas em letras de desejo.
Ainda em meus lábios, a convicção do teu nome
Silenciado na cumplicidade da noite.

Em meus olhos, o sentido claro
Daquilo que jamais me dirás.
Nem sempre o que nos habita o peito
Cabe na linguagem das letras,
Tampouco se deixa enclausurar
Na definição de qualquer palavra.
O silêncio é muitas vezes um poema...

Fernanda Guimarães

maio 03, 2006

Colo

Assim dormindo, rosto sereno,
não ouso acordar-te,
temo tocar-te e fazer-te regressar,
mas sinto-me sorrir à tua visão
e disponho meu colo como se o procurasses.

Colo de mulher alberga criança,
mas alberga sempre o amigo,
os afectos de ontem, sempre que retornados
ou mesmo quando nunca idos de vez.
Se abre e se purifica, sempre imenso,
para o afecto de hoje, para o amor inteiro,
se predispõe e se guarda
sem planos e sem chaves,
para os amores que hão de vir.

Colo de mulher tem lado mãe
e tem lado fêmea,
fazendo alquimia de desejo em carinho,
sempre se misturando almas.

Colo de mulher não tem só período fértil,
não tem só sono, tristeza ou cansaço,
tem dias completos,
noites sem dormir,
torrentes de palavras em silêncio,
felicidades imensas a borboletar.

Em colo de mulher habitam todos os seres,
todos os sentires, todos os toques,
todos os medos desfeitos,
todas as esperanças.

Assim dormindo, rosto sereno,
não ouso acordar-te,
mas tens meu colo desperto
para quando o quiseres.

Carla Marisa Pereira

maio 01, 2006

Contratempo


Na correnteza de cruel tormento
Busco a razão para encontrar sentido
E vou vagando como vaga o vento
No contratempo do tempo perdido.

Na solidão que me assola tanto
Aceito o fato como consumado
E entrego à vida todo aquele pranto
Que dentro d’alma estava bem guardado

Solto as amarras do meu pensamento
Dou liberdade à minha escravidão
Jogo no lixo todo o sofrimento.

Volto a sonhar e desfazer o pranto
Tento curar a dor da solidão
Na doce vida que amarga tanto!

Antonio Manoel A. Sardenberg