maio 03, 2006

Colo

Assim dormindo, rosto sereno,
não ouso acordar-te,
temo tocar-te e fazer-te regressar,
mas sinto-me sorrir à tua visão
e disponho meu colo como se o procurasses.

Colo de mulher alberga criança,
mas alberga sempre o amigo,
os afectos de ontem, sempre que retornados
ou mesmo quando nunca idos de vez.
Se abre e se purifica, sempre imenso,
para o afecto de hoje, para o amor inteiro,
se predispõe e se guarda
sem planos e sem chaves,
para os amores que hão de vir.

Colo de mulher tem lado mãe
e tem lado fêmea,
fazendo alquimia de desejo em carinho,
sempre se misturando almas.

Colo de mulher não tem só período fértil,
não tem só sono, tristeza ou cansaço,
tem dias completos,
noites sem dormir,
torrentes de palavras em silêncio,
felicidades imensas a borboletar.

Em colo de mulher habitam todos os seres,
todos os sentires, todos os toques,
todos os medos desfeitos,
todas as esperanças.

Assim dormindo, rosto sereno,
não ouso acordar-te,
mas tens meu colo desperto
para quando o quiseres.

Carla Marisa Pereira

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