dezembro 30, 2005

O Velho Ano Novo


Lá se vai o Ano Velho
Despedindo-se do novo
Trazendo sonhos pro povo
No ano que se inicia
Desejo de paz alegria
Um mundo de fantasia
Começa tudo de novo...

No céu explodem foguetes
A multidão se assanha
O pobre pede um emprego
O rico estoura champanhe.
O Velho pede saúde,
Muita paz e energia
O jovem não pede nada
Uns vivendo de mesada
Outros com a mesa vazia!

E assim o mundo vai,
Anos e anos a fio,
E o grande desafio
Ninguém consegue enfrentar
Pois o verbo repartir,
Dividir, querer e amar
Muitos sabem conjugar
Poucos sabem praticar
E muito menos sentir...

Tomara que este ano,
Seja muito diferente,
Onde a fraternidade,
A ternura e o calor,
Façam a vida mais contente
Dando afago a toda gente
Que tem fome de carinho,
De emprego, pão e de amor!

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

dezembro 29, 2005

Simplesmente Mulher


Nada mais contraditório que ser Mulher!
Mulher que pensa com o coração...
Age pela emoção e vence pelo amor...
Mulher que como uma feiticeira transforma...
Em luz e sorriso as dores que sentes...
Na alma só pra ninguém notar....

Mulher que é feita de mistérios...
Tudo se esconde...
Sonhos... Axilas... Vagina... Amores...
Mulher que envelhece e esconde...
Uma menina que permanece...
Onde ela está agora...

Mulher que ama... Se for correspondida...
Bem no fundo de teu coração...
Deixa a tua paixão escondida...
Mulher que se desprezada por quem amas...
Chora... Sofre... Sozinha...
Mas seu coração nobre continua a amá-lo...
Mulher não se rebaixe...
Não abaixe teus olhos...
Pois mesmo amando...
Deves lembrar que é MULHER!

Mulher forte... Corajosa...Decidida...
Trás no peito uma paixão que os...
Compromissos não permitem revelar...
Mulher que vive lutando entre a razão e a emoção...
Mesmo errando e vacilando nunca para de sonhar...
Mulher que todos pensam que tudo ela importa...
Mas ninguém conhece seu coração...

Mulher que se enfeita e perfuma o leito...
Ainda que seu amor nem perceba tais detalhes...
Mulher que cobra de si a perfeição...
E vive arrumando desculpas para o erro...
Daqueles a quem amas...
Mulher que vive milhões de emoções...
Num só dia e transmite cada uma delas...
Num único olhar...

Mulher que hospeda no ventre outras almas...
Que dá a luz e depois fica cega...
Diante da beleza dos filhos que gerou...
Mulher que sofre calada...
Chora e proclama...
Deseja... Espera... Ama...
Que busca e se encanta...

Mulher que sozinha vive e morre...
Que renuncia e aceita...
Que canta e se encanta...
Que se cala... Chora... implora...

Mulher que nesse instante nessa vida...
Segue seu caminho com os olhos rasos d’água...
Chorando esperanças...
Acreditando no amor...
Mulher que desvenda todo seu espaço...
Procura a beleza de todo teu ser...
E encontra Deus...

Mulher que fantasia...
Que idealiza e se realiza...
Mulher que em fogo queima...
Seu corpo transpira...
Desejos secretos...
Pecados de mim...

Feliz do homem!
Que um dia souber entender...
A ALMA DA MULHER!!!!

Vania Staggemeier

dezembro 28, 2005

Vaga, no Azul Amplo Solta


Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Fernando Pessoa

dezembro 27, 2005

Beijo


Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.

Jorge de Sena

Meu Velho Pião


Peguei a fieira fina,
Enrolei no meu pião.
Dei um impulso com o pulso
Lancei o brinquedo ao chão.
Vi meu passado girando
E aos poucos fui lembrando
As voltas que vida dá
E que não podem voltar
Como o giro de um pião!

Gira, meu velho pião,
Não perca tempo com o tempo
Pois que a vida é momento,
O resto é só ilusão...

Não adianta remorso
E nem arrependimento...
O que girou, já girou,
O passado já passou,
Pode esquecer que é besteira,
É pião que foi lançado
E com o punho arremessado
Pela ponta da fieira...

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

dezembro 26, 2005

Felicidade


Felicidade não tem peso,
nem tem medida,
não pode ser comprada,
não se empresta, não se toma emprestada,
não resiste a cálculos, porque não material,
nos padrões materiais do nosso mundo.
Só pode ser legítima.
Felicidade falsa não é felicidade, é ilusão.
Mas, se eu soubesse fazer contas na medida do bem,
diria que a felicidade pode ter tamanho,
pode ser grande, pequena,
cabendo nas conchas da mão,
ou ser do tamanhão do mundo.
Felicidade é sabedoria, esperança,
vontade de ir, vontade de ficar,
presente, passado, futuro.
Felicidade é confiança:
fé e crença,
trabalho e acção.
Não se pode ter pressa de ser feliz,
porque a felicidade vem devagarinho,
como quem não quer nada.
Ser feliz não depende de dinheiro,
não depende de saúde,
nem de poder.
Felicidade não é fruto da ostentação,
nem do luxo.
Felicidade é desprendimento,
não é ambição.
Só é feliz quem sabe suportar, perder,
sofrer e perdoar.
Só é feliz quem sabe, sobretudo, amar.

Wanderlino Arruda

dezembro 24, 2005

Happy Christmas (War Is Over)


So this is Christmas, and what have you done.
An other year over, and a new one just begun.
And so this is christmas, I hope you have fun.
The near and the dear one's, the old and the young.

A very Merry Christmas, and a happy new year
Let's hope it's a good one, without any fear.

And so the this is Christmas
for week and for strong
For rich and the poor one's
the road is so long
And so Happy Christmas,
for black and for white
For yellow and red ones,
let's stop all the fight.

A very Merry Christmas, and a happy new year.
Let's hope it's a good one, without any fear.

And so this is Christmas,
and what have we done.
An other year over,
and a new one just begun.
And so happy Christmas,
we hope you have fun.
The near and the dear one's,
the old and the young.

A very Merry Christmas, and a happy new year
Let's hope it's a good one, without any fear.

War is over, if you want to
war is over, now

John Lennon

dezembro 23, 2005

Das Margens


Deixaste a margem do sonho
e emigraste para o outro lado Agora…
és apenas mais um exilado na margem da banalidade!

Aí…
Terra nua de surpresas
todos os gestos se repetem
inexoravelmente iguais
na sucessão dos dias e das noites…
e na voragem dos calendários vão esfriando
até se tornarem obviamente insuportáveis

Aí…
Areias onde não poisa o imprevisto
engordarás de tédio e de náusea
à mesa do quotidiano
até sufocares
na estreiteza dos fatos engomados…

Aí…
Chão alagado de silêncios
as palavras não têm fragrância de flor
nem sabem a mel…
e os amantes dizem “Olá, amor!”
como quem diz: “Acho que vai chover!…”

Aí…
Céu descolorido de romance
o Sol já não se ruboriza
quando pressente o odor da Lua
que a ele se entrega todas as noites
numa rotina de desencanto…
e a estrela polar nem estremece
à passagem do cometa
previsível todos os sábados à noite

Aí…
Lareira de fogos anémicos
o desejo coze em lume brando…
os beijos
oh! os beijos!…
trocam-se a horas certas
com a mesma ligeireza com que se escovam os dentes…
e o sexo
cada vez mais económico
vai dispensando a pouco e pouco
o luxo dos aperitivos

Espreito-te
da margem do sonho…

Aqui…
As palavras desabrocham com aroma de jasmim
e sabem a poema…
e quando os amantes dizem “Olá, amor!”
põem nas palavras corpo e alma
embalam-se em acordes de Chopin

Aqui…
O Sol não se acende todos os dias
mas queima rubro quando desponta…
a Lua
a Lua é uma deusa
que só se entrega num ritual sagrado…
e a estrela polar
habitualmente serena
rodopia em êxtase
se um cometa inesperado a visita

Aqui…
O fogo arde em labaredas
e o desejo ferve e transborda…
os beijos
oh! os beijos!…
tombam sem hora
como perlas de anis em bocas sedentas…
e o sexo
pródigo de iguarias
tem a volúpia de um momento raro…
corpo e alma em sincronia
destilando orgasmos cósmicos
em evasão para o Infinito

Espreito-te
da margem do sonho…

E choro-te!
Pobre emigrante exilado
na margem da banalidade…

Carmo Vasconcelos

dezembro 21, 2005

Ninguém


Embriaguei-me num doido desejo
E adoeci de saudade.
Caí no vago ... no indeciso
Não me encontro, não me vejo -
Perscruto a imensidade

E fico a tactear na escuridão
Ninguém. Ninguém
Nem eu, tão pouco!

Encontro apenas
o tumultuar dum coração
aprisionado dentro do meu peito
aos saltos como um louco.

Judith Teixeira

dezembro 20, 2005

Ternura


Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão Ferreira

dezembro 19, 2005

Amor e Paixão


Amor é brisa suave,
é aconchego, é carinho,
voo cadente da ave
indo em busca do seu ninho.
É bruma leve do mar
em manhã de primavera,
desejo louco de estar
com alguém que se espera.

Volúpia louca é paixão,
mar revolto, tempestade...
É amar sem a razão,
é só loucura e vontade.
Paixão é amor sem juízo,
sem norte, recta ou tino,
errante sem ter destino,
o inferno no paraíso!

Amor é paz, é ternura,
é o frescor da aragem,
a mais cálida coragem,
maior ato de bravura.
É o céu lá nas alturas,
é a mais sublime imagem!

Paixão é inconsequência,
é demência desmedida,
é o nada, é ausência,
é o fim – a despedida!

Amor é tudo, enfim
é a vida iluminada,
é a afirmação, é o sim,
é o encontro na chegada!

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

dezembro 18, 2005

Voo com Pouso Certo


O sono venceu a vigília
Também ele quebrou a dor
O silêncio que o pensamento
Ocupava por distracção

Breve os olhos se fecharam
por trás das pálpebras cerradas
Os sentidos esvaneceram
As ideias, no quarto, pereceram
Deram sua vez à solidão.

O sono caiu beneplácito
Vindo como bom agasalho
a um real entristecido
quebrando na luz apagada
o dia que já tinha morrido.

Eu nunca pensara no sono
como um bem tão inocente
como um toldo que à dor, à ânsia
encobre essa tristeza que
da noite só quer o seu fim.

E ainda como simples prémio
Vêm os sonhos nos superar
Uma fantasia que intercepta
a nossa vontade de acordar.

Regina Souza Vieira

dezembro 17, 2005

Antítese Perfeita


Num dia chuvoso, lados opostos se encontram
Lábios mornos, corpos quentes
Se inflamam...
Tudo original e ao mesmo demodê,
Nostálgico como a nostalgia
Se unem dando vida a um romance entre o bem e o mal
Que misturam amor colossal, ódio quase mortal...
O sim se mistura com o não...
O dia termina no ocaso das trevas
E na penumbra da noite as paredes do quarto confessam
Antíteses perfeitas, exactas...
O frio, o calor
A noite clama...
Medo, ousadia
A cama...
O tudo, o nada
O suor flúi nos corpos ardentes...
A fidalguia, o populacho
A sedução impúdica...
Meiguice, açoite
Harmonia longínqua...
Desabrocha o ciúme ciumento
Nascente da desconfiança confiante,
Se amam, se odeiam.
Nunca foram francos
Tão pouco burlaram o espanto
São sinceros, são belos
Mentem com toda persuasão
Vivem tardes primaveris em noites de verão...
Ela é bela
Ele o rei da quimera
Ela refuta
Ele insiste, o sonho existe
Eles são brilhantes
São opostos, são tortos
Mas são amantes....

Allan Julianelli

dezembro 16, 2005

Remorso


Às vezes uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando,
Cismo e padeço, neste Outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude.

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

Olavo Bilac

dezembro 15, 2005

Se eu Pudesse Guardar os Teus Sentidos


Se eu pudesse guardar os teus sentidos
Numa caixa de prata e de cristal,
Entre conchas do mar, búzios partidos,
Pequenas coisas sem valor real...

Se eu pudesse viver anos perdidos
Contigo, numa ilhota de coral,
Para além dos espaços conhecidos,
Mais longe do que a aurora boreal...

Se eu soubesse que o olhar de toda a gente
Te via, por milagre, repelente,
Que fugiam de ti como da peste...

Nem assim abrandava o meu ciúme,
Que é afinal o natural perfume
Da flor do grande amor que tu me deste.

Reinaldo Ferreira

dezembro 14, 2005

O Teu Olhar


Não mais que desejar,
Assim, seria belo descrever
O que visualizam os meus olhos
Quando encontram o teu olhar!...
E nesse encontro,
Não mais que descrever,
Seria poder experimentar
Essa fascinante magia
Que se irradia em meus olhos
Quando encontram teu olhar!...
E percorrer seus enlevos
E rebelar-me em carinhos,
Ou poder, simplesmente,
Teu rosto,
Com os dedos acariciar...
E os teus lábios,
Bem no cantinho,
Com os meus lábios tocar....
O quanto isso seria bom...
E até sonhar!
Se os teus olhos e os meus
Pudessem se encontrar
Num só olhar!...
Num só encontro!...

Lúcia Leite

dezembro 13, 2005

Fragilidade


Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto para se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse como um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade
Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

E é tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra e já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve

Mafalda Veiga

dezembro 12, 2005

As Pombas


Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E a tarde, quando a rígida nortada,
Sobra, aos pombais, de novo, elas, serenas
Ruflando as asas, sacudindo as penas
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais...

Raimundo Correia

dezembro 11, 2005

Tomara


Tomara que você volte depressa
que você não se despeça
nunca mais do meu carinho
E volte, se arrependa e pense muito
que é melhor se sofrer junto
que viver feliz sozinho
Tomara que a tristeza te convença
que a saudade não compensa
e que a ausência não dá pé
Que o verdadeiro amor de quem se ama
tece a mesma antiga trama e não se desfaz
Que a coisa mais bonita desse mundo
é viver cada segundo como nunca mais.

Vinicius de Moraes

dezembro 10, 2005

O Amor é o Amor


O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!

Alexandre O´Neill

dezembro 09, 2005

Mar de Setembro


Tudo era claro:
céu, lábios, areias,
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas?
iam, vinham, iam,
dóceis, leves – só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado.

Eugénio de Andrade

dezembro 08, 2005

Palavras


Quando as palavras se murmuram
Não passam de segredos que se sussurram
Há palavras que se usam como armas
Palavras que disparam como balas

E de tantas as palavras
É difícil escolher
A palavra certa para te dizer
E te fazer entender

Palavras cruzadas, palavras trocadas
Palavras por palavras, doces e amargas
Há palavras que se usam sem intenção
Ás vezes as palavras fogem-nos da mão

A palavra é armadilha
A palavra é compromisso
A palavra é comando e feitiço

Há palavras a lembrar
Há palavras a esquecer
Há palavras que nem chegam a nascer

Palavras por dizer...

Alto Risco

dezembro 07, 2005

Fronteira


É doce a tentação do labirinto
assim que o sono chega e se propaga
ao contorno das coisas. mal as sinto
quando confundo a onda sempre vaga

deste falso cansaço que regressa
ao som da minha estranha e dócil fala
cada vez mais submersa como essa
pequena luz da rua que resvala

p’lo interior da noite. É quase um sonho
A respirar lá fora enquanto o quarto
se dilui na fronteira que transponho
e afoga a consciência de onde parto

agora sem direito nem avesso
no incerto momento em que adormeço.

Fernando Pinto do Amaral

dezembro 06, 2005

Saudade


Da amizade,
Do amor,
é a presença do ausente,
é dor gostosa, dor alegre,
que vai direitinho ao coração.
Sentir saudade
é querer bem perto
O bem-querer.
É pensar em ir, querer voltar.
É buscar ver o que não alcança a vista.
Sentir saudade é mergulhar no infinito,
e penetrar na solidão,
buscando a companhia,
imaginando sorrisos,
colorindo sonhos.
Saudade é transfusão de sentimentos,
convite de reconforto,
carinho infinito, infinita ternura.
Saudade é alegria que fere,
tristeza que alivia.

Wanderlino Arruda

dezembro 05, 2005

Ronda


Na dança dos dias
meus dedos bailaram...
Na dança dos dias
meus dedos contaram
contaram, bailando
cantigas sombrias...

Na dança dos dias
meus dedos cansaram...

Na dança dos meses
meus olhos choraram
Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando
por ti, quantas vezes!

Na dança dos meses
meus olhos cansaram...

Na dança do tempo,
quem não se cansou?!

Oh! dança dos dias
oh! dança dos meses
oh! dança do tempo
no tempo voando...

Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?

Alda Lara

dezembro 04, 2005

Das Utopias


Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Mário Quintana

dezembro 03, 2005

O Amor


Quando encontrar alguém e esse alguém
fizer seu coração parar de funcionar por
alguns segundos, preste atenção: pode ser
a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e,
neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta pode ser a pessoa que você
está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso,
se o beijo for apaixonante e os olhos
se encherem d´água neste momento,
perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento
do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça
Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se algum dia tiverem que pedir perdão
um ao outro por algum motivo e em troca receber
um afago, um sorriso, um afago nos cabelos e os
gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se:
vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra
pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar
as suas lágrimas e enxuga-las com ternura,
que coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento,
sentir o cheiro da pessoa como se ela
estivesse ali do seu lado... Se você achar
a pessoa maravilhosamente linda mesma
ela estando de pijamas velhos, chinelo de
dedos e cabelos emaranhados...
É uma dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida,
mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Ou às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais deixam o amor passar, sem deixa-lo
acontecer verdadeiramente.
É o livre arbítrio.

Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia
o deixem cego para a melhor coisa da vida:
O AMOR.

Carlos Drummond de Andrade

dezembro 02, 2005

Eu Quero


Não quero a boca fechada
Não quero o beijo passivo
Não quero a carícia tímida
Não quero a inércia do amor

Não quero o gesto contido
Não quero a voz reprimida
Não quero os olhos fechados
Não quero limites no amor

Eu quero a entrega total
Eu quero o amor imoral
Eu quero o segredo de alcova
Eu quero o corpo suado

Eu quero o beijo roubado
Eu quero a certeza do amor
Eu quero o amor impossível
Eu quero o prazer e a dor

Eu quero enfim a beleza
Eu quero a alegria da vida
Eu quero ser dono da alma
Eu quero o suspiro sem fim

Almir Capthor

dezembro 01, 2005

Amor Vadio


A cama ocupada, desarrumada
O coração vazio, com frio
No passo apressado, o caminho errado
Na dor repassada, curtida, velada
O medo doentio, a solidão
A alegria apagada, o caminho perdido
Na tristeza constante, malvada
Pela incerteza vibrante, a caminhada
Nessa estrada distante, apagada
Um canto esquecido, abandonado
A procura acabada, o cansaço
O sonho adormecido, embalado
Em braços macios, aquecidos...
De um amor vadio.

Kika Perez

novembro 30, 2005

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não se foi embora, mas a pessoa amada sim...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
"aquela que nunca amou."
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Pablo Neruda

novembro 29, 2005

Bailando com a Chuva


Lá fora... cai a chuva indiferente
dançando nua, gelada e ondulante
invade-me o seu frio penetrante
e ensopa-se a minha alma lentamente

Baila com a chuva o meu imaginário
a valsa de ontem, memórias esquecidas
rodopiam sonhos, paixões adormecidas
pecados inconfessos, segredos dum diário

É um bailado grotesco, alucinante
vertiginoso, cruel, fantasmagórico
a um só tempo deprimente e eufórico
sombras chinesas numa tela esvoaçante

Lá fora...cai a chuva persistente
já mal a ouço, absorta em devaneio
de alma alagada, mente náufraga, sem freio
meu corpo enrodilhado e indolente

Lá fora... pára a chuva de repente!
E um odor a seiva, a pão, terra molhada
enxuga-me a alma e faz brotar a gargalhada
que devolve à vida o meu corpo já dormente

Nas asas do vento morno o passado foge
do porão da alma eu tranco as escotilhas
mudo o cenário, troco as sapatilhas
e volto para o palco, bailarina de hoje!

Carmo Vasconcelos

novembro 28, 2005

O Que Há


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

novembro 27, 2005

O Destino

Quando alguém julga ser alguém na vida
e sente que tem tudo a seu favor,
dinheiro, a saúde e o amor,
e sempre a todos leva de vencida…

Quando alguém passa os dias sem uma dor,
um ai sequer, queixume ou uma caída,
sem ter uma só noite mal dormida,
e tudo lhe sorri como uma flor…

De certo que esse alguém é bem feliz,
em seu viver alegre como um hino,
mas não esqueça, não, que por um triz,

Um sopro, um desígnio divino,
tudo pode ruir pela raiz,
e inverter-se logo o seu destino…

Ernesto Nunes

novembro 26, 2005

Sonho Louco...


Com sabor de pecado,
Lembrei dos teus lábios
Tão loucos e envolventes
Com sede de amar ...

Quis estar ...
Quis poder me entregar.

Num sonho sem formas,
Mergulhei em teu braços
Esqueci o cansaço
(saudades de amar)....

Quis te amar:
E a você, me entregar .

Num grito mais forte,
(ironia ou sorte)
pude ser quem eu quis:
amá-lo por inteiro e
por instantes ser feliz !!


Márcia Camargo

novembro 25, 2005

Devaneios


Rolo na cama
Não consigo dormir
Fecho os olhos
Vejo você...
Levanto
Caminho na casa
Bebo uma água
Abro a porta
Olho pra lua
Penso em você...
Volto pro quarto
Acendo a luz
Abro um livro
Não consigo ler
Visualizo você...
A cama vazia
Grande e fria
Abraço meu travesseiro
Sinto você...
O dia amanhece
Olhos cansados
Cabeça pesada
Cadê você?
Abro a janela
Contemplo a rua
Vejo o sol
A mente viaja
...e vai de encontro a você!

Ângela Bretas

novembro 24, 2005

E Aprendemos


Após um tempo,
Aprendemos a diferença subtil
Entre segurar uma mão
E acorrentar uma alma,
E aprendemos
Que o amor não significa deitar-se
E uma companhia não significa segurança
E começamos a aprender...
Que os beijos não são contratos
E os presentes não são promessas
E começamos a aceitar as derrotas
De cabeça levantada e os olhos abertos
Aprendemos a construir
Todos os seus caminhos de hoje,
Porque a terra amanhã
É demasiado incerta para planos...
E os futuros têm uma forma de ficarem
Pela metade.
E depois de um tempo
Aprendemos que se for demasiado,
Até um calorzinho do sol queima.
Assim plantamos nosso próprio jardim
E decoramos nossa própria alma,
Em vez de esperarmos que alguém nos traga flores.
E aprendemos que realmente podemos aguentar,
Que somos realmente fortes,
Que valemos realmente a pena,
E aprendemos e aprendemos...
E em cada dia aprendemos.

Jorge Luís Borges

novembro 23, 2005

Beijo


Quando os lábios se tocaram, não restou dúvidas,
não restou razão, sobrou emoção e amor.
A aproximação tímida, tornou-se íntima,
convidativa, irrecusável.

Toda as dúvidas e apreensões de ambos evaporaram.
Corpos próximos, coração acelerado,
respiração entrecortada,
olhos fechados.

Línguas em uma suave carícia,
linda, lenta, interminável.
Medo, satisfação, loucura.
O definido confundiu-se,
e o confuso, definiu-se.

Era tudo incerto,
nublado, embaçado.
Todavia, correcto.
Feio? Pecado? Vulgar?
Não... nada disso... era amar!!...

Andréa Borba Pinheiro

novembro 22, 2005

Memórias Esquecidas


São meras palavras
Ditas pelo vento
Quando não estás

Cai em mim a noite
Sinto o momento
Olho p´ra trás

Palavras perdidas, ficam por dizer
Perco a razão
Memórias esquecidas, sinto-me perder
Tudo é ilusão

Se eu sentir que não sou capaz
De enfrentar marcas do passado
É porque tu nem sempre me dás
A certeza de querer estar a meu lado
Oh, a meu lado

Quando desabafo
Os meus sentimentos
Não posso mais

Aguentar estar calado
Esconder momentos
Eu quero mais

Palavras perdidas, ficam por dizer
Perco a razão
Memórias esquecidas, sinto-me perder
Tudo é ilusão....


Mérito Ramos

novembro 21, 2005

Coração de Pedra


Oh, quanto me pesa
este coração, que é de pedra!
Este coração que era de asas
de musica e tempo de lágrimas.

Mas agora é sílex e quebra
qualquer dura ponta de seta.

Oh! como não me alegra
ter este coração de pedra!

Dizei por que assim me fizestes,
vós todos a quem amaria,
mas não amarei, pois sois estes
que assim me deixastes, amarga,
sem asas, sem musica e lágrimas

assombrada, triste e severa
e com meu coração de pedra!

Oh, quanto me pesa
ver meu próprio amor que se quebra!
O amor que era mais forte e voava
mais que qualquer seta

Cecília Meireles

novembro 20, 2005

Canção


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
cobre as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

novembro 19, 2005

Me Sinto Assim


Me sinto assim
pronta pra você
pros teus carinhos
pros teus anseios

Me sinto assim
corpo e alma desnudos
dos preconceitos
só pra você

Me sinto assim
inteira, verdadeira
me entrego a você
nada mais me importa,
só você...

Cássia Vicente

novembro 18, 2005

Despertei


Aquela hora em que o silêncio
Já se instalara terminantemente
Despertei
Ao redor tudo dormia
Você assaltou meu pensamento
Muitas indagações, muitas dúvidas
Você estava lá, acordado
Entrou sem pedir licença
Riu e zombou da minha insensatez
O silêncio agora me incomodava
No escuro do meu quarto
Passeavam incertezas
Nos anéis de fumaça
Vi sua face
Chorei em silêncio
Desperta e só
Em posição fetal
Me acomodei
Esperando amanhecer

Angélica Teresa Almstadter

novembro 17, 2005

Sem Limites


Por um momento
meu corpo foi tua morada,
teu pedaço de paraíso,
fonte da juventude, pura de prazer,
sem limites...
Por um momento
teu corpo foi meu refúgio,
meu palmo de inferno,
poço de desejos recebidos
sem limites...
Por um momento
nossos corpos
ultrapassaram conceitos,
navegamos em ondas explícitas
sem limites...
Por um momento
desfeitos de emoções
refeitos de carinhos
satisfeitos
bebemos desta fonte
mergulhamos neste poço
descobrimos néctares
sem limites...

Ângela Bretas