novembro 29, 2005

Bailando com a Chuva


Lá fora... cai a chuva indiferente
dançando nua, gelada e ondulante
invade-me o seu frio penetrante
e ensopa-se a minha alma lentamente

Baila com a chuva o meu imaginário
a valsa de ontem, memórias esquecidas
rodopiam sonhos, paixões adormecidas
pecados inconfessos, segredos dum diário

É um bailado grotesco, alucinante
vertiginoso, cruel, fantasmagórico
a um só tempo deprimente e eufórico
sombras chinesas numa tela esvoaçante

Lá fora...cai a chuva persistente
já mal a ouço, absorta em devaneio
de alma alagada, mente náufraga, sem freio
meu corpo enrodilhado e indolente

Lá fora... pára a chuva de repente!
E um odor a seiva, a pão, terra molhada
enxuga-me a alma e faz brotar a gargalhada
que devolve à vida o meu corpo já dormente

Nas asas do vento morno o passado foge
do porão da alma eu tranco as escotilhas
mudo o cenário, troco as sapatilhas
e volto para o palco, bailarina de hoje!

Carmo Vasconcelos

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