novembro 20, 2006

Última Lágrima

Dia haverá, que ao acordar de manhã,
pensarei em outras coisas que não sejam você.
Que não indagarei mais o porquê,
que terei transcendido esta saudade.
Que não sentirei por você, mais nada,
nem ao menos amizade...

Dia haverá, que não precisarei mais
saber como você tem passado:
Se feliz ou triste, se contente ou amuado.
Que não perguntarei mais de você
a ninguém, porque pouco me importará
se você estiver passando mal ou bem...

Dia haverá, que não pedirei mais a Deus
que você me escreva, que me ligue,
me procure ou dê sinal de vida.
Que não abrirei mais as cartas na mesa,
no afã de encontrar uma saída.
Que não precisarei mais lhe contar os detalhes
aqui da minha lida...

Dia haverá, que você estará banido da minha mente,
do meu destino, das minhas noites insones.
Que conseguirei olhar as estrelas,
sem chorar e sem gritar seu nome.
Que terei me sobreposto e dizimado este fadário.
Na última lágrima,
Na última conta do meu rosário.


Fátima Irene Pinto

novembro 12, 2006

Foi Feitiço

Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite
Me guia de dia e seduz

Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
Ter o céu como fundo
Ir ao fim do mundo e voltar

Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço!
O que é que me deu?
P’ra gostar tanto assim de alguém
Como tu…

Eu gostava que olhasses p'ra mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo
Um olhar em segredo
Só p’ra eu… te abraçar

O primeiro impulso
É sempre mais justo
É mais verdadeiro
E o primeiro susto
Dá voltas e voltas
Na volta redonda
De um beijo profundo


André Sardet

novembro 05, 2006

Adoro em Ti


O que adoro em ti não é tua beleza
a beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste, não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade
e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
não é a tua inteligência.

Não é o teu espírito subtil,
tão ágil, tão luminoso,
nem é tua ciência
do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
não é tua graça musical,
sucessiva e renovada a cada momento,
graça aérea como o teu próprio pensamento,
graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em tua natureza,
não é o profundo instinto paternal
em teu flanco aberto como uma ferida.

Nem tua pureza
nem tua impureza
o que eu adoro em ti
lastima-me e consola-me!

O que eu adoro em ti é a vida!


Manoel Bandeira