dezembro 29, 2006

Eu Escrevi Um Poema Triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mário Quintana

dezembro 09, 2006

Medo

Ouve o grande silêncio destas horas!
Há quanto tempo não dizemos nada…
Tens no sorriso uma expressão magoada,
tens lágrimas nos olhos, e não choras!

As tuas mãos nas minhas demoras
numa eloquência muda, apaixonada…
Se o meu sombrio olhar de amargurada
procura o teu, sucumbes e descoras…

O momento mais triste de uma vida
é o momento fatal da despedida,
Vê como o medo cresce em mim, latente…

Que assustadora, enorme sombra escura!
Eis afinal, amor, toda a tortura:
- vejo-te ainda, e já te sinto ausente!

Virgínia Victorino

dezembro 01, 2006

Metades

Silêncio... deliciosa revelação que o som emudece...
As minhas metades... e as suas...

Somos sempre duas metades,
Porque a vida é feita de escolhas!

Somos o sim e o não,
Ainda que haja o talvez...

Somos o antes e o agora,
Ainda que estejamos sempre à espera do depois.

Somos luz e escuridão,
Simplesmente porque uma não pode existir sem a outra.

Somos corpo e espírito,
Embora a essência esteja na alma.

Somos medo e coragem,
Porque dentro de nós grita o desejo.

Somos vida e morte,
Mesmo que acreditemos na existência de apenas uma de cada vez.

Somos som e silêncio,
ainda que nossas vozes independam deles.

Somos um constante ir e vir,
Porque ainda que estejamos aqui, estamos também em outros lugares.

Somos dúvida e certeza,
Simplesmente porque ambas são idênticas.

Somos ilusão e realidade...
E em busca de nossas metades,
De nada nos adianta apenas saber,
É preciso sentir!

Porque somente saber, nada significa quando descobrimos
Que as nossas metades são igualmente sagradas...
E ambas só podem ser inteiras,
Quando se entregam à inexplicável magia do amor.


Rosana Braga

novembro 20, 2006

Última Lágrima

Dia haverá, que ao acordar de manhã,
pensarei em outras coisas que não sejam você.
Que não indagarei mais o porquê,
que terei transcendido esta saudade.
Que não sentirei por você, mais nada,
nem ao menos amizade...

Dia haverá, que não precisarei mais
saber como você tem passado:
Se feliz ou triste, se contente ou amuado.
Que não perguntarei mais de você
a ninguém, porque pouco me importará
se você estiver passando mal ou bem...

Dia haverá, que não pedirei mais a Deus
que você me escreva, que me ligue,
me procure ou dê sinal de vida.
Que não abrirei mais as cartas na mesa,
no afã de encontrar uma saída.
Que não precisarei mais lhe contar os detalhes
aqui da minha lida...

Dia haverá, que você estará banido da minha mente,
do meu destino, das minhas noites insones.
Que conseguirei olhar as estrelas,
sem chorar e sem gritar seu nome.
Que terei me sobreposto e dizimado este fadário.
Na última lágrima,
Na última conta do meu rosário.


Fátima Irene Pinto

novembro 12, 2006

Foi Feitiço

Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite
Me guia de dia e seduz

Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
Ter o céu como fundo
Ir ao fim do mundo e voltar

Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço!
O que é que me deu?
P’ra gostar tanto assim de alguém
Como tu…

Eu gostava que olhasses p'ra mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo
Um olhar em segredo
Só p’ra eu… te abraçar

O primeiro impulso
É sempre mais justo
É mais verdadeiro
E o primeiro susto
Dá voltas e voltas
Na volta redonda
De um beijo profundo


André Sardet

novembro 05, 2006

Adoro em Ti


O que adoro em ti não é tua beleza
a beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste, não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade
e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
não é a tua inteligência.

Não é o teu espírito subtil,
tão ágil, tão luminoso,
nem é tua ciência
do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
não é tua graça musical,
sucessiva e renovada a cada momento,
graça aérea como o teu próprio pensamento,
graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em tua natureza,
não é o profundo instinto paternal
em teu flanco aberto como uma ferida.

Nem tua pureza
nem tua impureza
o que eu adoro em ti
lastima-me e consola-me!

O que eu adoro em ti é a vida!


Manoel Bandeira

outubro 23, 2006

Tédio

Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!"
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...

Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... O que me importa?...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!

O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!

E é tudo sempre o mesmo, eternamente...
O mesmo lago plácido, dormente...
E os dias, sempre os mesmos, a correr...

Florbela Espanca

outubro 20, 2006

Nosso Amor Eterno

Que a necessidade dos nossos corpos
não seja tão somente prazer...
Que o brilho dos nossos olhos,
não expresse apenas a saudade...
Que os pensamentos que nos invadem,
não sejam apenas devaneios...
Que a minha esperança e a sua capacidade de se doar,
não sejam apenas um ato de caridade...
Que o amor que carregamos no nosso coração,
não seja apenas um breve amor...
Que tudo o que pudermos dizer um ao outro,
que seja dito enquanto exista a afinidade de ideias,
Que possamos não ocultar as mágoas e os ressentimentos.
Que o nosso ideal de vida seja o mesmo,
Que tudo o que sonharmos, seja conjunto,
Que nosso equilíbrio esteja na mesma medida...
Assim, quando não existir mais nenhum obstáculo entre nós,
possamos ser finalmente:
Uma grande história de amor!


Vilma Galvão

outubro 16, 2006

Balada de Sempre

Espero a tua vinda,
a tua vinda,
em dia de lua cheia.
debruço-me sobre a noite
inventando crescentes e luares.
Espero o momento da chegada
com o cansaço e o ardor de todas as chegadas.
Rasgarás nuvens, estradas,
abrindo clareiras
nas sebes e nas ciladas.
Saltarás por cima de mares,
de planícies e relevos
- ânsia alada
no meu desejo imaginada
Mas
enquanto deixo a janela aberta
para entrares
o mar
aí além,
lambe-me os braços hirtos, braços verdes
algas de sonho
- e desenha ironias na areia molhada

Fernando Namora

outubro 02, 2006

O Sol e a Lua

Quando o SOL e a LUA se encontraram pela primeira vez,
se apaixonaram perdidamente
e a partir daí começaram a viver um grande amor.

Acontece que o mundo ainda não existia
e no dia que Deus resolveu criá-lo,
deu-lhes então o toque final... o brilho !

Ficou decidido também que o SOL iluminaria o dia
e que a LUA iluminaria a noite,
sendo assim, seriam obrigados a viverem separados.

Abateu-se sobre eles uma grande tristeza
quando tomaram conhecimento
de que nunca mais se encontrariam.

A LUA foi ficando cada vez mais amargurada,
mesmo com o brilho que Deus havia lhe dado,
ela foi se tornando solitária.

O SOL por sua vez havia ganhado
um título de nobreza "ASTRO REI",
mas isso também não o fez feliz.

Deus então chamou-os e explicou-lhes:
Vocês não devem ficar tristes,
ambos agora já possuem um brilho próprio.

Você LUA, iluminará as noites frias e quentes,
encantará os enamorados
e será diversas vezes motivo de poesias.
Quanto a você SOL, sustentará esse título
porque será o mais importante dos astros,
iluminará a terra durante o dia,
fornecerá calor para o ser humano
e a sua simples presença fará as pessoas mais felizes.

A LUA entristeceu-se muito com seu
terrível destino e chorou dias a fio...
já o SOL ao vê-la sofrer tanto,
decidiu que não poderia deixar-se
abater pois teria que dar-lhe forças e ajudá-la
a aceitar o que havia sido decidido por Deus.

No entanto sua preocupação era tão grande
que resolveu fazer um pedido a ELE:
Senhor, ajude a LUA por favor,
ela é mais frágil do que eu,
não suportará a solidão...
E Deus em sua imensa bondade criou então
as estrelas para fazerem companhia a ela.

A LUA sempre que está muito triste
recorre as estrelas que fazem de tudo
para consolá-la, mas quase sempre não conseguem.

Hoje eles vivem assim... separados,
o SOL finge que é feliz, a LUA não
consegue esconder que é triste.

O SOL ainda esquenta de paixão pela LUA
e ela ainda vive na escuridão da saudade.

Dizem que a ordem de Deus era que a LUA
deveria ser sempre cheia e luminosa,
mas ela não consegue isso....
porque ela é mulher, e uma mulher tem fases.
Quando feliz consegue ser cheia,
mas quando infeliz é
minguante e quando minguante nem sequer
é possível ver o seu brilho.

LUA e SOL seguem seu destino,
ele solitário mas forte,
ela acompanhada das estrelas, mas fraca.
Humanos tentam a todo instante conquistá-la,
como se isso fosse possível.
Vez por outra alguns deles vão até ela
e voltam sempre sozinhos, nenhum deles
jamais conseguiu trazê-la até a terra,
nenhum deles realmente conseguiu conquistá-la,
por mais que achem que sim.
Acontece que Deus decidiu que
nenhum amor nesse mundo seria de todo
impossível, nem mesmo o da LUA e o do SOL...
e foi aí então que ele criou o eclipse.

Hoje SOL e LUA vivem da espera desse instante,
desses raros momentos que lhes foram concedidos
e que custam tanto a acontecer.
Quando você olhar para o céu a partir de agora
e vir que o SOL encobriu a LUA
é porque ele deitou-se sobre ela e começaram a se amar
e é ao ato desse amor que se deu o nome de eclipse.
Importante lembrar que o brilho
do êxtase deles é tão grande que
aconselha-se não olhar para o céu nesse momento,
seus olhos podem cegar de ver tanto amor.

Bem, mas na terra também existe sol e lua...
e portanto existe eclipse....
mas essa era a única parte da história
que você já sabia, não era?


Silvana Duboc