junho 03, 2006

Metade de Mim

Que a força do medo que tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo que eu acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio…

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda, que triste…

Que a mulher que eu amo
seja sempre amada,
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimento.

Porque metade de mim é o que eu ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

Que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
E que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que eu me lembro de ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que eu fui,
a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos apronte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é plateia
e a outra metade, a canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também!


Oswaldo Montenegro

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