dezembro 30, 2005

O Velho Ano Novo


Lá se vai o Ano Velho
Despedindo-se do novo
Trazendo sonhos pro povo
No ano que se inicia
Desejo de paz alegria
Um mundo de fantasia
Começa tudo de novo...

No céu explodem foguetes
A multidão se assanha
O pobre pede um emprego
O rico estoura champanhe.
O Velho pede saúde,
Muita paz e energia
O jovem não pede nada
Uns vivendo de mesada
Outros com a mesa vazia!

E assim o mundo vai,
Anos e anos a fio,
E o grande desafio
Ninguém consegue enfrentar
Pois o verbo repartir,
Dividir, querer e amar
Muitos sabem conjugar
Poucos sabem praticar
E muito menos sentir...

Tomara que este ano,
Seja muito diferente,
Onde a fraternidade,
A ternura e o calor,
Façam a vida mais contente
Dando afago a toda gente
Que tem fome de carinho,
De emprego, pão e de amor!

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

dezembro 29, 2005

Simplesmente Mulher


Nada mais contraditório que ser Mulher!
Mulher que pensa com o coração...
Age pela emoção e vence pelo amor...
Mulher que como uma feiticeira transforma...
Em luz e sorriso as dores que sentes...
Na alma só pra ninguém notar....

Mulher que é feita de mistérios...
Tudo se esconde...
Sonhos... Axilas... Vagina... Amores...
Mulher que envelhece e esconde...
Uma menina que permanece...
Onde ela está agora...

Mulher que ama... Se for correspondida...
Bem no fundo de teu coração...
Deixa a tua paixão escondida...
Mulher que se desprezada por quem amas...
Chora... Sofre... Sozinha...
Mas seu coração nobre continua a amá-lo...
Mulher não se rebaixe...
Não abaixe teus olhos...
Pois mesmo amando...
Deves lembrar que é MULHER!

Mulher forte... Corajosa...Decidida...
Trás no peito uma paixão que os...
Compromissos não permitem revelar...
Mulher que vive lutando entre a razão e a emoção...
Mesmo errando e vacilando nunca para de sonhar...
Mulher que todos pensam que tudo ela importa...
Mas ninguém conhece seu coração...

Mulher que se enfeita e perfuma o leito...
Ainda que seu amor nem perceba tais detalhes...
Mulher que cobra de si a perfeição...
E vive arrumando desculpas para o erro...
Daqueles a quem amas...
Mulher que vive milhões de emoções...
Num só dia e transmite cada uma delas...
Num único olhar...

Mulher que hospeda no ventre outras almas...
Que dá a luz e depois fica cega...
Diante da beleza dos filhos que gerou...
Mulher que sofre calada...
Chora e proclama...
Deseja... Espera... Ama...
Que busca e se encanta...

Mulher que sozinha vive e morre...
Que renuncia e aceita...
Que canta e se encanta...
Que se cala... Chora... implora...

Mulher que nesse instante nessa vida...
Segue seu caminho com os olhos rasos d’água...
Chorando esperanças...
Acreditando no amor...
Mulher que desvenda todo seu espaço...
Procura a beleza de todo teu ser...
E encontra Deus...

Mulher que fantasia...
Que idealiza e se realiza...
Mulher que em fogo queima...
Seu corpo transpira...
Desejos secretos...
Pecados de mim...

Feliz do homem!
Que um dia souber entender...
A ALMA DA MULHER!!!!

Vania Staggemeier

dezembro 28, 2005

Vaga, no Azul Amplo Solta


Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Fernando Pessoa

dezembro 27, 2005

Beijo


Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.

Jorge de Sena

Meu Velho Pião


Peguei a fieira fina,
Enrolei no meu pião.
Dei um impulso com o pulso
Lancei o brinquedo ao chão.
Vi meu passado girando
E aos poucos fui lembrando
As voltas que vida dá
E que não podem voltar
Como o giro de um pião!

Gira, meu velho pião,
Não perca tempo com o tempo
Pois que a vida é momento,
O resto é só ilusão...

Não adianta remorso
E nem arrependimento...
O que girou, já girou,
O passado já passou,
Pode esquecer que é besteira,
É pião que foi lançado
E com o punho arremessado
Pela ponta da fieira...

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

dezembro 26, 2005

Felicidade


Felicidade não tem peso,
nem tem medida,
não pode ser comprada,
não se empresta, não se toma emprestada,
não resiste a cálculos, porque não material,
nos padrões materiais do nosso mundo.
Só pode ser legítima.
Felicidade falsa não é felicidade, é ilusão.
Mas, se eu soubesse fazer contas na medida do bem,
diria que a felicidade pode ter tamanho,
pode ser grande, pequena,
cabendo nas conchas da mão,
ou ser do tamanhão do mundo.
Felicidade é sabedoria, esperança,
vontade de ir, vontade de ficar,
presente, passado, futuro.
Felicidade é confiança:
fé e crença,
trabalho e acção.
Não se pode ter pressa de ser feliz,
porque a felicidade vem devagarinho,
como quem não quer nada.
Ser feliz não depende de dinheiro,
não depende de saúde,
nem de poder.
Felicidade não é fruto da ostentação,
nem do luxo.
Felicidade é desprendimento,
não é ambição.
Só é feliz quem sabe suportar, perder,
sofrer e perdoar.
Só é feliz quem sabe, sobretudo, amar.

Wanderlino Arruda

dezembro 24, 2005

Happy Christmas (War Is Over)


So this is Christmas, and what have you done.
An other year over, and a new one just begun.
And so this is christmas, I hope you have fun.
The near and the dear one's, the old and the young.

A very Merry Christmas, and a happy new year
Let's hope it's a good one, without any fear.

And so the this is Christmas
for week and for strong
For rich and the poor one's
the road is so long
And so Happy Christmas,
for black and for white
For yellow and red ones,
let's stop all the fight.

A very Merry Christmas, and a happy new year.
Let's hope it's a good one, without any fear.

And so this is Christmas,
and what have we done.
An other year over,
and a new one just begun.
And so happy Christmas,
we hope you have fun.
The near and the dear one's,
the old and the young.

A very Merry Christmas, and a happy new year
Let's hope it's a good one, without any fear.

War is over, if you want to
war is over, now

John Lennon

dezembro 23, 2005

Das Margens


Deixaste a margem do sonho
e emigraste para o outro lado Agora…
és apenas mais um exilado na margem da banalidade!

Aí…
Terra nua de surpresas
todos os gestos se repetem
inexoravelmente iguais
na sucessão dos dias e das noites…
e na voragem dos calendários vão esfriando
até se tornarem obviamente insuportáveis

Aí…
Areias onde não poisa o imprevisto
engordarás de tédio e de náusea
à mesa do quotidiano
até sufocares
na estreiteza dos fatos engomados…

Aí…
Chão alagado de silêncios
as palavras não têm fragrância de flor
nem sabem a mel…
e os amantes dizem “Olá, amor!”
como quem diz: “Acho que vai chover!…”

Aí…
Céu descolorido de romance
o Sol já não se ruboriza
quando pressente o odor da Lua
que a ele se entrega todas as noites
numa rotina de desencanto…
e a estrela polar nem estremece
à passagem do cometa
previsível todos os sábados à noite

Aí…
Lareira de fogos anémicos
o desejo coze em lume brando…
os beijos
oh! os beijos!…
trocam-se a horas certas
com a mesma ligeireza com que se escovam os dentes…
e o sexo
cada vez mais económico
vai dispensando a pouco e pouco
o luxo dos aperitivos

Espreito-te
da margem do sonho…

Aqui…
As palavras desabrocham com aroma de jasmim
e sabem a poema…
e quando os amantes dizem “Olá, amor!”
põem nas palavras corpo e alma
embalam-se em acordes de Chopin

Aqui…
O Sol não se acende todos os dias
mas queima rubro quando desponta…
a Lua
a Lua é uma deusa
que só se entrega num ritual sagrado…
e a estrela polar
habitualmente serena
rodopia em êxtase
se um cometa inesperado a visita

Aqui…
O fogo arde em labaredas
e o desejo ferve e transborda…
os beijos
oh! os beijos!…
tombam sem hora
como perlas de anis em bocas sedentas…
e o sexo
pródigo de iguarias
tem a volúpia de um momento raro…
corpo e alma em sincronia
destilando orgasmos cósmicos
em evasão para o Infinito

Espreito-te
da margem do sonho…

E choro-te!
Pobre emigrante exilado
na margem da banalidade…

Carmo Vasconcelos

dezembro 21, 2005

Ninguém


Embriaguei-me num doido desejo
E adoeci de saudade.
Caí no vago ... no indeciso
Não me encontro, não me vejo -
Perscruto a imensidade

E fico a tactear na escuridão
Ninguém. Ninguém
Nem eu, tão pouco!

Encontro apenas
o tumultuar dum coração
aprisionado dentro do meu peito
aos saltos como um louco.

Judith Teixeira

dezembro 20, 2005

Ternura


Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão Ferreira

dezembro 19, 2005

Amor e Paixão


Amor é brisa suave,
é aconchego, é carinho,
voo cadente da ave
indo em busca do seu ninho.
É bruma leve do mar
em manhã de primavera,
desejo louco de estar
com alguém que se espera.

Volúpia louca é paixão,
mar revolto, tempestade...
É amar sem a razão,
é só loucura e vontade.
Paixão é amor sem juízo,
sem norte, recta ou tino,
errante sem ter destino,
o inferno no paraíso!

Amor é paz, é ternura,
é o frescor da aragem,
a mais cálida coragem,
maior ato de bravura.
É o céu lá nas alturas,
é a mais sublime imagem!

Paixão é inconsequência,
é demência desmedida,
é o nada, é ausência,
é o fim – a despedida!

Amor é tudo, enfim
é a vida iluminada,
é a afirmação, é o sim,
é o encontro na chegada!

Antonio Manoel Abreu Sardenberg

dezembro 18, 2005

Voo com Pouso Certo


O sono venceu a vigília
Também ele quebrou a dor
O silêncio que o pensamento
Ocupava por distracção

Breve os olhos se fecharam
por trás das pálpebras cerradas
Os sentidos esvaneceram
As ideias, no quarto, pereceram
Deram sua vez à solidão.

O sono caiu beneplácito
Vindo como bom agasalho
a um real entristecido
quebrando na luz apagada
o dia que já tinha morrido.

Eu nunca pensara no sono
como um bem tão inocente
como um toldo que à dor, à ânsia
encobre essa tristeza que
da noite só quer o seu fim.

E ainda como simples prémio
Vêm os sonhos nos superar
Uma fantasia que intercepta
a nossa vontade de acordar.

Regina Souza Vieira

dezembro 17, 2005

Antítese Perfeita


Num dia chuvoso, lados opostos se encontram
Lábios mornos, corpos quentes
Se inflamam...
Tudo original e ao mesmo demodê,
Nostálgico como a nostalgia
Se unem dando vida a um romance entre o bem e o mal
Que misturam amor colossal, ódio quase mortal...
O sim se mistura com o não...
O dia termina no ocaso das trevas
E na penumbra da noite as paredes do quarto confessam
Antíteses perfeitas, exactas...
O frio, o calor
A noite clama...
Medo, ousadia
A cama...
O tudo, o nada
O suor flúi nos corpos ardentes...
A fidalguia, o populacho
A sedução impúdica...
Meiguice, açoite
Harmonia longínqua...
Desabrocha o ciúme ciumento
Nascente da desconfiança confiante,
Se amam, se odeiam.
Nunca foram francos
Tão pouco burlaram o espanto
São sinceros, são belos
Mentem com toda persuasão
Vivem tardes primaveris em noites de verão...
Ela é bela
Ele o rei da quimera
Ela refuta
Ele insiste, o sonho existe
Eles são brilhantes
São opostos, são tortos
Mas são amantes....

Allan Julianelli

dezembro 16, 2005

Remorso


Às vezes uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando,
Cismo e padeço, neste Outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude.

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

Olavo Bilac

dezembro 15, 2005

Se eu Pudesse Guardar os Teus Sentidos


Se eu pudesse guardar os teus sentidos
Numa caixa de prata e de cristal,
Entre conchas do mar, búzios partidos,
Pequenas coisas sem valor real...

Se eu pudesse viver anos perdidos
Contigo, numa ilhota de coral,
Para além dos espaços conhecidos,
Mais longe do que a aurora boreal...

Se eu soubesse que o olhar de toda a gente
Te via, por milagre, repelente,
Que fugiam de ti como da peste...

Nem assim abrandava o meu ciúme,
Que é afinal o natural perfume
Da flor do grande amor que tu me deste.

Reinaldo Ferreira

dezembro 14, 2005

O Teu Olhar


Não mais que desejar,
Assim, seria belo descrever
O que visualizam os meus olhos
Quando encontram o teu olhar!...
E nesse encontro,
Não mais que descrever,
Seria poder experimentar
Essa fascinante magia
Que se irradia em meus olhos
Quando encontram teu olhar!...
E percorrer seus enlevos
E rebelar-me em carinhos,
Ou poder, simplesmente,
Teu rosto,
Com os dedos acariciar...
E os teus lábios,
Bem no cantinho,
Com os meus lábios tocar....
O quanto isso seria bom...
E até sonhar!
Se os teus olhos e os meus
Pudessem se encontrar
Num só olhar!...
Num só encontro!...

Lúcia Leite

dezembro 13, 2005

Fragilidade


Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto para se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse como um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade
Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

E é tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra e já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve

Mafalda Veiga

dezembro 12, 2005

As Pombas


Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E a tarde, quando a rígida nortada,
Sobra, aos pombais, de novo, elas, serenas
Ruflando as asas, sacudindo as penas
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais...

Raimundo Correia

dezembro 11, 2005

Tomara


Tomara que você volte depressa
que você não se despeça
nunca mais do meu carinho
E volte, se arrependa e pense muito
que é melhor se sofrer junto
que viver feliz sozinho
Tomara que a tristeza te convença
que a saudade não compensa
e que a ausência não dá pé
Que o verdadeiro amor de quem se ama
tece a mesma antiga trama e não se desfaz
Que a coisa mais bonita desse mundo
é viver cada segundo como nunca mais.

Vinicius de Moraes

dezembro 10, 2005

O Amor é o Amor


O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!

Alexandre O´Neill

dezembro 09, 2005

Mar de Setembro


Tudo era claro:
céu, lábios, areias,
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas?
iam, vinham, iam,
dóceis, leves – só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado.

Eugénio de Andrade

dezembro 08, 2005

Palavras


Quando as palavras se murmuram
Não passam de segredos que se sussurram
Há palavras que se usam como armas
Palavras que disparam como balas

E de tantas as palavras
É difícil escolher
A palavra certa para te dizer
E te fazer entender

Palavras cruzadas, palavras trocadas
Palavras por palavras, doces e amargas
Há palavras que se usam sem intenção
Ás vezes as palavras fogem-nos da mão

A palavra é armadilha
A palavra é compromisso
A palavra é comando e feitiço

Há palavras a lembrar
Há palavras a esquecer
Há palavras que nem chegam a nascer

Palavras por dizer...

Alto Risco

dezembro 07, 2005

Fronteira


É doce a tentação do labirinto
assim que o sono chega e se propaga
ao contorno das coisas. mal as sinto
quando confundo a onda sempre vaga

deste falso cansaço que regressa
ao som da minha estranha e dócil fala
cada vez mais submersa como essa
pequena luz da rua que resvala

p’lo interior da noite. É quase um sonho
A respirar lá fora enquanto o quarto
se dilui na fronteira que transponho
e afoga a consciência de onde parto

agora sem direito nem avesso
no incerto momento em que adormeço.

Fernando Pinto do Amaral

dezembro 06, 2005

Saudade


Da amizade,
Do amor,
é a presença do ausente,
é dor gostosa, dor alegre,
que vai direitinho ao coração.
Sentir saudade
é querer bem perto
O bem-querer.
É pensar em ir, querer voltar.
É buscar ver o que não alcança a vista.
Sentir saudade é mergulhar no infinito,
e penetrar na solidão,
buscando a companhia,
imaginando sorrisos,
colorindo sonhos.
Saudade é transfusão de sentimentos,
convite de reconforto,
carinho infinito, infinita ternura.
Saudade é alegria que fere,
tristeza que alivia.

Wanderlino Arruda

dezembro 05, 2005

Ronda


Na dança dos dias
meus dedos bailaram...
Na dança dos dias
meus dedos contaram
contaram, bailando
cantigas sombrias...

Na dança dos dias
meus dedos cansaram...

Na dança dos meses
meus olhos choraram
Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando
por ti, quantas vezes!

Na dança dos meses
meus olhos cansaram...

Na dança do tempo,
quem não se cansou?!

Oh! dança dos dias
oh! dança dos meses
oh! dança do tempo
no tempo voando...

Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?

Alda Lara

dezembro 04, 2005

Das Utopias


Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Mário Quintana

dezembro 03, 2005

O Amor


Quando encontrar alguém e esse alguém
fizer seu coração parar de funcionar por
alguns segundos, preste atenção: pode ser
a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e,
neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta pode ser a pessoa que você
está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso,
se o beijo for apaixonante e os olhos
se encherem d´água neste momento,
perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento
do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça
Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se algum dia tiverem que pedir perdão
um ao outro por algum motivo e em troca receber
um afago, um sorriso, um afago nos cabelos e os
gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se:
vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra
pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar
as suas lágrimas e enxuga-las com ternura,
que coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento,
sentir o cheiro da pessoa como se ela
estivesse ali do seu lado... Se você achar
a pessoa maravilhosamente linda mesma
ela estando de pijamas velhos, chinelo de
dedos e cabelos emaranhados...
É uma dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida,
mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Ou às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais deixam o amor passar, sem deixa-lo
acontecer verdadeiramente.
É o livre arbítrio.

Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia
o deixem cego para a melhor coisa da vida:
O AMOR.

Carlos Drummond de Andrade

dezembro 02, 2005

Eu Quero


Não quero a boca fechada
Não quero o beijo passivo
Não quero a carícia tímida
Não quero a inércia do amor

Não quero o gesto contido
Não quero a voz reprimida
Não quero os olhos fechados
Não quero limites no amor

Eu quero a entrega total
Eu quero o amor imoral
Eu quero o segredo de alcova
Eu quero o corpo suado

Eu quero o beijo roubado
Eu quero a certeza do amor
Eu quero o amor impossível
Eu quero o prazer e a dor

Eu quero enfim a beleza
Eu quero a alegria da vida
Eu quero ser dono da alma
Eu quero o suspiro sem fim

Almir Capthor

dezembro 01, 2005

Amor Vadio


A cama ocupada, desarrumada
O coração vazio, com frio
No passo apressado, o caminho errado
Na dor repassada, curtida, velada
O medo doentio, a solidão
A alegria apagada, o caminho perdido
Na tristeza constante, malvada
Pela incerteza vibrante, a caminhada
Nessa estrada distante, apagada
Um canto esquecido, abandonado
A procura acabada, o cansaço
O sonho adormecido, embalado
Em braços macios, aquecidos...
De um amor vadio.

Kika Perez