novembro 10, 2005

Ato de Amar


Sentir na pele a paixão explodir
Num êxtase sem igual
Dois corpos unidos
Trémulos de ardor
Duas vidas entregues
Sem receio
Ou pudor
Ao ato total
Loucuras do amor
Prazer e ternura
Fortemente presente
Duas almas tão puras
Indecentes
Inocentes
Carentes
Entregues ao ato de completa fissura
Respiração ofegante
Gemidos ocultos
Suor escorrendo
Pele ardente
Latejante
Pulsante
A sensação que se sente
Que momentos assim
Repletos de tamanha emoção
Só acontecem
Plenamente
Realmente...
quando o amor está presente!

Ângela Bretas

novembro 09, 2005

Lágrimas Ocultas


Se me ponho a cismar em outras eras
em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim

Florbela Espanca

novembro 08, 2005

Teu beijo


Teu beijo
é doce,
charmoso,
gostoso,
ternamente cheio de amor.
Inesquecível, eu sei!
Dele tenho lembrança,
dele tenho saudade,
dele tenho o sabor
para todos os minutos e horas da vida,
em toda a eternidade,
no tempo e no contratempo.
Teu beijo
é terno e eterno,
sincero,
suave,
leal,
doce,
charmoso,
gostoso,
um beijo de amor!

Wanderlindo Arruda

novembro 07, 2005

Adormecidos


Em um recanto calmo, de um lugar qualquer
Corpos unidos pelo abraço forte, coração em ritmo louco
Lábios húmidos, ardentes, briga de línguas
Pernas que se roçam, desejo que aumenta
Mãos carentes, perdidas, aflitas
Procurando o melhor caminho para o prazer
Aos poucos se despem sem pudor
Corpos que se entrelaçam feito cobras
No chão as roupas em forma de ninho
Na espera dos amantes, pássaros sozinhos
Em sua nudez, mais sensações descobrem
Se roçam, se tocam, se deleitam
Deslizam em si mesmos, vão ao chão
Grudados, suados, em um só carinho
Esquecidos do tempo e do espaço, sem hora
No auge da agonia, em busca do êxtase total
Quem penetra é sugado, é lambido, é guardado
Entre manobras, suspiros, abraços
O prazer que faz estremecer, um grito é contido
Os corpos cansados, adormecem no sono mágico
De quem saboreou um doce pecado.

Kika Perez

novembro 06, 2005

Meu Coração Procura


Meu coração está em busca de outro coração...
Pode ser um coração já com feridas,
mas que possa curar as minhas.
Não precisa ser muito grande,
mas que eu possa me aconchegar
e estar sempre presente.
Que seja bondoso e me ensine a sorrir.
Que esteja pronto para o amor,
um amor verdadeiro sem limites.
Que finja não se abater com as amarguras da vida
e apenas saiba amar ainda mais.

Meu coração,
sofrido e medroso,
quer agora encontrar um coração forte,
que preencha com ternura e transmita segurança.
Um coração sem culpas e sem tempo,
que se permita doar-se inteiro,
que bata em uma só velocidade
com o meu coração.
Que simplesmente esteja procurando o amor.
que esteja disposto a viver muito tempo,
tempo ainda insuficiente para tão grande amor.

Meu coração não se cansa de procurar por outro coração.
Não desiste nunca, apesar das decepções.
É um coração teimoso e triste,
que só quer encontrar outro para amar...

Vilma Galvão

novembro 05, 2005

Esse Cara


Ah! Esse cara
Tem me consumido
A mim e a tudo que quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pro que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada
Ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher

Caetano Veloso

novembro 04, 2005

Via-Láctea


Era sonho ou vinhas mesmo
no dorso de um cavalo alado
e sobre a fronte trazias, luzindo
o diadema da inocência..?

Era sonho ou ouvi mesmo
o teu riso, ressonâncias de cristal
enchendo de luz e música
velhas cavernas cavadas na memória..?

Era sonho ou eu vi mesmo
gravado na Via Láctea do teu galope
o nome sacro por que te dás
ecoando para lá dos tempos..?

Ai, menino do diadema…
leva-me contigo nesse voo leve
leva-me e ensina-me todas as coisas
que eu sei que tu sabes

a beber nas fontes
das nuvens mais altas
colher estrelinhas p’ra fazer cristais
das gotas da chuva fazer outro mar
e no dorso branco do cavalo alado
sobre a Via Láctea
contigo brincar.

Ângela Santos

novembro 03, 2005

Canções


Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!

Vai a penumbra desabrochando
Na alcova
Aonde estou aguardando
A tua vinda...
Não tardes, amor ausente!
Anoitece. O dia finda...
E as rosas desfalecendo
Vão caindo e murmurando:
– Queremos que Ele nos pise!
Mas, quando vem Ele, quando?...

António Botto

novembro 02, 2005

Serenata


Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles

novembro 01, 2005

Corpos


Das noites de néon que celebramos
perdura a chama
e queimam ainda meus lábios
as memórias
que não se dissolvem nos dias

Cada gesto novo
recomeça a viagem, a descoberta,
e no amplexo das tuas coxas, perdida
eu reencontro
os sons e os cheiros
num lugar qualquer de mim guardados,
antes de partir

Entre os meus e os teus olhos
estende-se a languidez cúmplice
decifrando sinais
de velhos amantes,

da tua à minha boca
a curta distancia
de um sopro vai
e tudo em nós se mistura...

em tuas mãos, o ritual do fogo se inicia
e cresce a lava do desejo
que nos arrasta
por entre sussurros e explosões

E é num mar de calmaria,
na embriaguez dos ópios naturais,
que nossos corpos
húmidos, quentes, saciados
desaguam.

Ângela Santos