janeiro 31, 2006

Reticências da Vida


Tanta coisa que eu não sei...
Tanta coisa que eu não vi...
Tanta bobagem que falei...
Tanta vida que perdi...

Tanta coisa que eu já sei...
Tanta coisa que eu já vi...
Tanta bobagem que não falei...
Tanta emoção que não senti...

Tantos dias procurei...
Tantos momentos que pensei...
Tantas dúvidas que não resolvi...
Mas pra mim tá tudo bem...

Outro segundo que se vai...
Outro minuto que foi embora...
É o tempo que entra e sai...
Perdida mais uma hora...

Tantos beijos que não dei...
Tantas cartas que rasguei...
Tantos amigos que dispensei...
Tantos afagos que neguei...

Outra semana que se vai...
Outro mês que foi embora...
É o tempo que entra e sai...
Levando de mim o viço, que existia, outrora.

Quantos anos eu tenho?...
Quem é você?...
Onde eu estou?...
Quem sou eu?...

Andréa Borba Pinheiro

janeiro 30, 2006

Balada da Irremediável Tristeza


Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...

A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

Abgar Renault

janeiro 29, 2006

Presidio


Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconscientemente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

Vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


David Mourão-Ferreira

janeiro 28, 2006

Gostoso Demais

Tô com saudades de tu meu desejo
Tô com saudade do beijo e do mel
Do teu olhar carinhoso
Do teu abraço gostoso
De passear no teu céu
É tão difícil ficar sem você
O teu amor é gostoso demais
Teu cheiro me dá prazer
Quando estou com você
Estou nos braços da paz
Pensamento viaja e vai buscar
Meu bem querer
Não posso ser feliz assim
Tem dó de mim
Que é que eu posso fazer?

Maria Bethânia

janeiro 27, 2006

Saudade


Saudade, de novo e agora. Saudade, já nem me lembrava.
De quando tu fostes embora.
Saudade, de novo, voltastes. A ausência que incomoda.
Saudade, me deixe em paz. Embora por ti tenha apreço.
Talvez por isso a mereça. Nunca me abandonastes.
Saudade, afinal, quem és tu? O que desejas de mim?
Se for a que vai vem. Essa eu conheço bastante. Já te peguei em flagrante.
Quando ela bem distante. Deixou-me contigo a chorar.
E pude então aprender. E posso agora ensinar.

A saudade é a dor da partida. Saudade, o querer sofrido.
Saudade, o choro, o gemido. Um desejo reprimido.
Saudade tem nome e tem cheiro. Perfume e calor ardente.
Guardados na nossa mente.

Com saudade, não se vive. Quando muito, pela metade.
Saudade é o calar sufocante. É o próprio desencanto.
É a vontade de morrer. Envolto em boas lembranças.
Saudade é a dor presumida. É ferida que não sara.
Sem a presença devida.

Saudade é solitária.
Um nó seco na garganta. Saudade, não adianta. É como a seca do nordeste.
Convive-se com ela.
Torcendo pra que a chuva, volte logo e nos alegre.
É planta bem aguada, que nasce dentro da gente.
Regada com muita lágrima.

Saudade é solidão. A solidão esperada. A solidão inconformada.
Saudade, ninguém esconde. Saudade é sempre saudade. Consola e não agrada.
Saudade demora mais. Demora pra ir embora.
Seja um dia ou um ano, de saudades, tanto faz
A saudade é dor infinda. De um momento ou de alguém.
Saudade, por fim, não discuto.
Na sabedoria do povo, é como diz o matuto
Vontade de ver de novo.

Domingos Oliveira Medeiros

janeiro 24, 2006

O Meu Jeito de Amar


Não quero mais drama nem sofrimento
Antes, quero crescer na alegria
e no transbordamento
Não quero mais declinar
melindres e impossibilidades
Antes, quero um amor
cuidado, partilhado,
pleno de mutualidade...
Não quero mais invejar
casais de namorados
Não quero mais caminhos
sinuosos, afunilados
Quero o amor que chegue
e que se faça ousado
Que irrompa nas curvas deste
meu corpo esfomeado...
Não quero mais desperdiçar
anos valiosos da minha vida
Não quero mais sentimentos
insustentáveis de menos valia
Quero falar de alegrias
e de palpáveis devaneios
Quero o homem amado, saciado...
repousando nos meus seios!!!!

Fátima Irene Pinto

janeiro 23, 2006

Armadilhas do Destino

No palco das ilusões encenei a dança da falsa alegria
como uma forma de suportar o peso da dor
O coração silenciou por medo dos monstros
adormecidos eternizados no âmago do ser
Videoteipes de lembranças nuas
vagueiam pelas sombras presentes nas febris retinas
O peso da tristeza transforma-se em lágrimas
e a alma despida de felicidade chora
Tudo é escuro
Meu mundo é vazio
Quisera acreditar no milagre da vida
Debruçar-me sobre os sonhos e não mais acordar
pensar em tudo que poderia ter sido e não fui
Lembrar de coisas que poderia ter feito e não fiz
O sopro dos ventos delirantes levou
para bem longe um a página solta da
minha história
O real desejou ser irreal
Quantos dissabores degustados pelo amargo tempo
De nada adiantou os clamores da alma
Nada valeu a pena!
Resta-me seguir pelas paralelas da vida
sem saber onde e quando vou me soltar
das armadilhas deste ingrato destino.

Zena Maciel

janeiro 22, 2006

Momentos


Como são difíceis os momentos.
Momentos de decisões,
momentos de escolhas,
momentos de solidões
momentos a dois,
momentos de partidas,
momentos em que fracções de segundos,
decidimos nossos destinos,
nossos caminhos.
Momentos que nem sempre estamos equilibrados,
lúcidos em tomá-los.
Momentos que se tornarão talvez eternos ou passageiros,
que se tornarão a dúvida ou a certeza,
uma realidade ou um sonho,
uma alegria ou uma lágrima.
Momentos que farão de fracções eternos dividendos.
Momentos que nos tornarão heróis ou covardes,
que nos farão amar ou odiar.
Momentos que serão lembranças ou esquecimentos,
serão eternidades ou passagens,
sublimes ou ilusórios.
Momentos de paixão,
momentos de capricho,
momentos de amantes,
momentos de loucuras,
momentos de anseios,
momentos de desejos.
Momentos, momentos......momentos,
Momentos que terei para decidir
Se na minha vida,
aqueles momentos que realmente me tocaram,
aqueles que realmente me fizeram,
valeram ou não um dia terem existido.

Bruna Wild

janeiro 21, 2006

Ser Poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

janeiro 20, 2006

Escreve-Me ...


Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

Florbela Espanca

janeiro 19, 2006

Evidências


Quem ama sente ciúmes,
Muito ou pouco não importa,
Mas sente sim.
Quem deixou de amar
Já não se importa e deixa o outro
Totalmente à vontade,
Para que ele próprio possa estar também assim.

Quem ama - vez por outra -
Dá uma patrulhada no território
E delimita as suas fronteiras.
Quem deixou de amar
Já não fiscaliza, é frio,
Controlado e jamais perde as estribeiras.

Quem ama sempre acha tempo
E encontra um jeito
Para estar com seu amor.
Quem deixou de amar
Vai postergando sem pressa,
Deixando que o vento sopre a seu favor.

Quem ama faz perguntas pessoais
E usa muito o pronome "nós".
Quem deixou de amar
Conversa banalidades
E esquece o significado
Do advérbio "a sós ".

Quem ama quer saber da vida do outro
Com detalhes e transparência.
Quem deixou de amar
Se esquiva e não cobra do outro mais nada,
Nem ao menos coerência.

Quem ama é pródigo em e-mails, telefonemas
E com muito carinho dá um jeitinho
De marcar presença.
Quem deixou de amar
É pródigo em desculpas e pretextos
Com os quais passa um verniz
Para disfarçar a indiferença.

Quem ama é naturalmente fiel
E está sempre voltado
Às necessidades do outro ser.
Quem deixou de amar
Só é fiel a si próprio
E ao seu bem estar
E já não percebe os danos que causa,
Querendo ou sem querer.

Quem ama, mas não pode corresponder
Por imperativos das circunstâncias,
Abre o jogo e usa de sinceridade.
Quem deixou de amar
Não descarta o outro do baralho,
Para o caso de uma eventualidade.

Será que neste momento
Tu Amas ou deixaste de Amar?
Se já não Amas,
Com certeza irás te calar
Ou talvez até dizer:

- Face ao exposto, nada tenho a declarar!!

Fátima Irene Pinto

Impasse


Tão longe e aqui mesmo
te sinto,
tão longo o abraço
que não dou

tão gélido o toque
das palavras
de encontro ao peito
aberto, indefeso…

tão estreito o caminho,
tão fundo o abismo
diante dos olhos exaustos
à procura de abrigo…


Ângela Santos

janeiro 18, 2006

Rifa-se Coração


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração malandro que insiste em pregar partidas em seu dono.

Rifa-se um coração que, na realidade está um pouco usado,
meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconsequente, que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado, coração que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu …
"não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero..."
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, que mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural..
Um coração insensato que comanda o racional, sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga e se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional, que abre sorrisos tão largos que quase dá para engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente
e contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente, que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu dono.
Um coração que, quando parar de bater, ouvirá o seu dono dizer para São Pedro,
na hora da prestação de contas:
"O Senhor poderá conferir, eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer, e se recusa a envelhecer..."

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu dono.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconsequente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adoptado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence o seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clarice Lispector

janeiro 17, 2006

Perdidos


Você para mim
Eu sem você
Sozinhos
Perdidos
Buscando respostas
Que são indecisas
Remotas
Constantes
Sem saber se há fim
Sem querer começar
E assim deixar de lado
A paixão
A emoção
Levados somente
Pela razão da vida
Esta vida perdida
Machucada
Confusa
Que nos dá um presente
Mas
Não mostra a saída...

Ângela Bretas

janeiro 16, 2006

Flor do Desejo


Mar aberto
Vida fechada
Coração ao léu!
Flor do desejo!
Por onde andas?
Em que estrela cadente partistes
que se quer encontrei tua sombra?
Em qual coração adormecestes e
não mais quisestes acordar?
Onde fizestes teu ninho?
Por que não levastes a minha dor como
tua companhia?
Rejeito adoçar meus dias com o
néctar da solidão
Perdida dentro de mim
não sei para onde ir
Sigo a estrada do nada como uma
louca peregrina errante
Busco-te em cada alvorecer
Desencanto-me em cada anoitecer
Mesmo assim, ainda te espero e te quero!
Vens cantar ao meu ouvido
Não importa a melodia
Engana-me com tolos desejos
Vens beijar minha saudade nua
Visita-me em sonhos
Desfolha a árvore da tristeza desta pobre alma dilacerada
Dê-me pelo menos um minuto fugaz
de falsa felicidade e vás embora!

Zena Maciel

janeiro 15, 2006

Se Tu Viesses Ver-me Hoje à Tardinha


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca

janeiro 14, 2006

Este Seu Olhar


Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar

Doce é sonhar
É pensar que você
Gosta de mim
Como eu de você!

Mas a ilusão
Quando se desfaz
Dói no coração
De quem sonhou, sonhou demais

Ah! Se eu pudesse entender
O que dizem os teus olhos...

Tom Jobim

janeiro 13, 2006

Viver Não Dói


Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.
Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projecções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente connosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

janeiro 12, 2006

Sonho Virtual

És real na minha fantasia
Te toco, te vejo, te sinto
Aqui tão perto, agora
Posso até sentir teu cheiro
Aroma doce da manhã
Estás aqui, sussurrando
Belas palavras ao meu ouvido
És um sonho real
Um sonho virtual, que me alimenta
Se teus dedos roçam minha pele
Tremo, um arrepio me percorre
Possuir-te é um sonho
Que acalento em silêncio
E eu te sinto aqui
Passeando palavras
Me cobrindo a face de beijos
Não, não quero acordar
Enquanto sonho, meu mundo é real

Angélica Teresa Almstadter

janeiro 11, 2006

Necessito...


Necessito de um olhar
sincero sobretudo,
que afague minha alma,
que anda carente de tudo...

Necessito de um abraço
de verdadeira saudade,
que me lembre de repente
o que é sentir felicidade...

Necessito ser ouvida
por tempo indeterminado
e que quando me cale,
seja pra ficar ao teu lado...

Necessito ser necessária,
com certa intensidade,
no vazio das horas,
necessito ser lembrada...

Angela Lara

janeiro 09, 2006

A Insustentável Leveza de Ser Mulher...


A mulher é o único ser da criação
que abriga dentro de si, um templo.

Só ela sabe ser Deusa
e ser Santa,
ser Rainha e ser Mulher,

Ser forte quando precisa,
e ser frágil quando quer.

Mulher que gera vidas,
e cria a humanidade.
Que sabe ser estrela,
e sabe ser saudade.

Só ela sabe ser
mulher e ser menina,
ser sedutora
e ser seduzida.

Ela é Luz quando brilha,
é paz quando
acalma e tranquiliza.

Ela é música
quando é alegria,
é ritmo vibrante
quando improvisa.

Ela é tempestade
quando chora,
ou um Vulcão
quando Ama.

Ela sofre discriminação,
é incompreendida,
mas sabe superar.

Sofre preconceitos,
tem lá os seus defeitos,
mas sabe perdoar.

É mulher e é amante,
é companheira
e é guerreira,

Ela pode até perder a luta,
mas nunca perde
os seus ideais...

Ela pode até perder
os seus amores,
mas nunca
desiste de sonhar.

É feminina,
sensível,
amável,
sem perder a força.

Ela é ternura
quando envolve,
é segredo quando encanta.

Assim como a lua,
ela tem as suas fases,
todas imprevisíveis,
todas incomunicáveis.

A mulher
é o maior de todos
os mistérios,
que alguns
Homens
ainda não
conseguiram desvendar.


Lisiê Silva

janeiro 08, 2006

Poema da Utopia


A noite caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras de bons actores.
Findou o espectáculo. Tudo o mais é arrabalde.

No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.

Fernando Namora

janeiro 07, 2006

Desperta


Desperta, amor, das plácidas
Margens de meus braços.
Desperta do gozo pleno
Dos meus e dos teus ais.
O tempo corre pra longe
E dormes a noite que te prometi.
Se afago teu corpo, insaciável,
É que careço do tempo que perdi.
Desperta, amor,
Já vem tão logo outro dia,
E distante reviverei teus apelos,
E por amor tecerei nossos dias,
Que passados,
Tem pressa do futuro.
Desperta, amor,
Amanhã não estarei dentro de ti.
E se me levo longe,
Eu sei que ainda estarei por perto,
E por certo ainda,
Habitarás em mim.

Giselle Del Pino

janeiro 06, 2006

Desnorte


Irrompe à força
este sentir que não sei,
não domino,
e em canto brota em mim
o grito

meus passos agitam-se
nas sombras do caminho,
meus braços animam-se
ensaiando gestos,
amputados na busca
contorcidos na forma de abraçar

meus olhos,
silenciados mares
drenaram torrentes,
esgotaram seu sal.

e a besta acoitada em mim
rasga o que esperei
e em pedaços me devolve
a vida.

Ângela Santos

janeiro 05, 2006

A Morte Não Existe


Em Memória a António Santos que como Sogro, Avô, Pai e Marido foi uma pessoa que estará sempre presente nos nossos corações.

Não existe a morte. Os astros se vão
Para surgirem em outras terras e
Sempre brilhando no diadema celeste,
Espalham seu fulgor incessantemente.

Não existe a morte. O chão que pisamos
Converter-se-á pelas chuvas estivais,
Em grãos dourados; em doces frutos;
Em flores que luzem suas policromias.

Não existe a morte. Embora lamentemos
Quando o corpo denso de seres queridos
Que aprendemos a amar, sejam levados
De nossos amorosos braços, agora vazios.

Eles não morreram. Apenas partiram,
Rompendo a névoa que nos cega aqui;
Para nova vida, mais ampla, mais livre,
De esferas serenas, de brilhante Luz.

Embora invisíveis aos nossos olhos;
Continuam nos amando. Estão connosco.
Nunca esquecem os seres queridos,
Que pelo mundo, atrás deixaram.

Não existe a morte. As folhas do bosque
Convertem em vida o ar invisível;
As rochas se desintegram para alimentar
O faminto musgo que nelas se agarrou.

Não existe a morte. As folhas caem;
As flores murcham e desaparecem;
Esperam apenas durante as horas hibernais
O retorno do suave alento da Primavera.

Embora com o coração despedaçado,
Coberto com as negras vestes de luto,
Levemos seus restos à obscura morada
E digamos que eles morreram.

Apenas despiram suas vestes de barro,
Para revestirem com trajes cintilantes.
Não foram para longe, não nos deixaram;
Não se perderam; nem mesmo partiram.

Por vezes sentimos na fronte febril,
Suave carícia ou balsâmico alento;
É que nosso espírito ainda os vê,
E nosso coração se conforta e tranquiliza.

Sempre juntos a nós, embora invisíveis,
Continuam esses queridos espíritos imortais;
Pois, em todo o infinito Universo de Deus,
Só existe Vida - NÃO EXISTE MORTE.

John McCreery

janeiro 04, 2006

Todas as Cartas de Amor são Ridículas ….


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

janeiro 03, 2006

Paixão e Amor


Paixão é posse, é loucura,
Amor é liberdade é ternura.

Paixão é desvario, confusão,
Amor é carinho, é comunhão.

Paixão é atropelo, é desatino,
Amor é confiança no destino.

Paixão é querer tudo controlar,
Amor é ter certeza no voltar.

Paixão é uma insensata obsessão,
Amor é como uma luz no coração.

Paixão é como tempestade tropical,
Amor é uma chuva benéfica e igual.

Paixão é avassaladora e até mortal,
Amor é guardar um eterno e belo ideal.

Paixão faz ferver todo o teu sentir,
Amor te acalma, serena e faz sorrir.

Paixão pode ser um ruim sentimento,
Amor é maior que o firmamento.

Paixão é uma terrena fraqueza,
Amor é olhar o espaço e ver beleza.

Paixão te faz sofrer e querer saciar,
Amor te faz querer todo o bem ofertar.

Paixão custa a conter e sufocar,
Só o amor nos faz querer controlar.

Paixão faz o outro gemer e sofrer,
Amor faz sentir felicidade e renascer...

Arlete Piedade

janeiro 02, 2006

Por te Rever


Quisera roubar-te essas palavras e morrer
Trazer-te assim até ao fim do que eu puder
E começar um dia mais eternamente
Por te rever, só
Pudesse eu guardar-te nos sentidos e na voz
E descobrir o que será de nós
E demorar um dia mais eternamente
Por te rever, só
Quisera a ternura, calmaria azul do mar
O riso o amor o gosto a sal o sol do olhar
E um lugar pra me espraiar eternamente
Por te rever, só
Pudesse eu ser tempo a respirar no teu abraço
Adormecer e abandonar-me de cansaço
Quisera assim perder-me em mim eternamente
Por te rever, só

Mafalda Veiga